segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ausência


A onda nos passou rente
e quando percebemos
era o amor que tinha passado.

Mas o arrepio que nos vem de repente
é a lembrança que sobrou de nós.
E a maré de volta vem trazendo
o profundo amor que se perdeu no mar.

(Cássio Almeida)

sábado, 24 de outubro de 2009

Tudo que tiver que acontecer


Tudo que tiver que acontecer nessa vida
que aconteça,
e o rio que corre para o mar
vai levando junto a vida e o tempo.
O tempo é correnteza forte,
vai levando tudo
e volta e meia eu vou pro mar
sentir a vida e o tempo, chegar e passar.
Tudo que tiver que acontecer
que aconteça,
pois o rio vai levando,
mas a maré traz tudo de volta.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Se de repente a escuridão chegar

Assisti esses dias o filme "Ensaio Sobre a Cegueira", filme baseado no livro do escritor José Saramago. E que película! História que te prende ao filme do início ao fim, dramático, perturbante, que me deixou por muitas vezes chocado, e o melhor de tudo, o filme te faz pensar muito sobre a vida, faz você imaginar-se naquela situação, faz você refletir.
Várias vezes durante o filme fechei os olhos tentando imaginar se de repente eu perdesse a visão, como seria viver sem as imagens, sem um dos mais fundamentais sentidos, viver às escuras, vivendo somente das lembranças.
Como viveria sem poder ver o mar, as montanhas, um barco no horizonte, a lua, as estrelas, a areia branca, a rua, os carros, alguém de bicicleta, como poderia viver sem ver o rosto dos meus amigos, sem ver o rosto da minha família, sem ver o rosto do meu amor. São tantas coisas que chega embaralhar os meus pensamentos, seria uma mudança tão chocante que não sei como reagiria. Como aprender a viver somente das lembranças, e o que eu ainda não vi, e se de repente eu esquecer tudo. Como seguir sem nunca mais poder ver a própria face.
Mas também me cabe outro pensamento. E as pessoas que já nasceram cegas? Não posso julgar se seria melhor ou pior. Porém, pensar nessa hipótese também me causa desconforto. Como seria encarar o mundo sem nada conhecer visualmente, absolutamente nada, nem mesmo as lembranças me caberiam no pensamento.
Seria como viver num conto de fadas, viver somente da imaginação, e o poder do toque das mãos. As pessoas não veriam, apenas sentiriam o que há de mais belo para os nossos olhos. As paisagens, as construções, o céu, a terra, o mar, de uma simples formiga, há uma imensa baleia, tudo por conta da imaginação.
Tudo teria outro sentido, e a frase "O amor é cego", seria na forma literal das palavras. Seria o mais puro e sincero amor do fundo da alma e do coração, o seu amor seria mais do que nunca a rainha dos seus sonhos.
Esse filme nos abre há infinitas situações, o "Ensaio Sobre a Cegueira" não passou despercebido, não foi apenas um filme, mas uma viagem filosófica, que nos faz pensar na vida, se de repente acordássemos no meio da escuridão.

(Cássio Almeida)