segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Último acorde


A vida é um música.
Levo a vida numa melodia serena,
dedilhada,
sem pressa para não errar as notas.
A vida é arte, a vida é música.
Assim como eu gosto
no volume máximo,
felicidade máxima.

Compositores do tempo,
compõem a minha vida.
O vento, a chuva, o sol,
o mar (o maravilhoso mar,
mar amado, mar das pedras, pedras do meu reino).
O meu amor, o meu coração, o dos outros,
o sorriso, sorriso tantos, e a lágrima que não segurei
e sem rumo certo escorreu pelo rosto.
O sonho que sonhei, a hora que não tive,
o caminhar pela rua, o olhar perdido,
o abraço apertado e aquele sentimento infinito.
O inexplicável, o lógico, o óbvio descarado,
as entrelinhas entre um olhar e o beijo.
O medo, o choque, o chique,
aquela chaleira chiando ao fundo.
A vizinha que grita, o passarinho que canta,
o silêncio incompreendido das estrelas.
As imagens que mechem com a gente,
as fotografias, o natural, o apenas.
O quando, o será, o agora,
e o talvez me parece chato.
Os que me lêem, os que me conhecem,
os que já ouviram falar.
E até pra quem um dia descuidei,
ergam-se, estufem o peito,
e ponham-se diante a mim.
Pois todos, pois tudo,
tudo que é de átomo ou não
insignificante ser e sentimento por si só,
tudo que um dia a terra degustará.
Tudo.
Meras notas do meu viver,
compõem o que é a vida.

Toco a vida,
a minha vida acordoada.
E o último acorde chegará um dia
que encerrará a minha música favorita,
com notas simples, de glória, felicidade e amor.
Assim seja! Esse final musical.

Mas provavelmente não serei esse a dar o acorde final.
Quem sabe seja um alguém desconhecido,
ou de certa forma alguma coisa obscura,
imaginária.
E assim se vai levando
enquanto componho,
sigo afinando a vida.

(Cássio Almeida)