quarta-feira, 30 de abril de 2008

O traje

Tenho medo de você
que não sei com quem converso.
Você que faz parte de alguma coisa
que faz parte do futuro
que também irá construir
que irá moldar ao seu modo
e que eu não sei se vou gostar.
Eu não sei se você é do mal ou do bem.
Se for do mal, mal vestido,
esse traje que o botaram,
que te esconde,
que te nega,
que diz quem você não é,
que transforma tua imagem no espelho,
dispe-se.
O traje agora é tragico,
mas se for do bem, ainda bem,
se for do bem, bem melhor.

(Cássio Almeida)

Tropeço

Como escondem os sentimentos
uns certos alguém.
Esconde por que não tem?
Ou será que esconde-se bem?
E o meu sentimento que não é invisível
segue a vagar a procura do teu.
Um dia sem querer tropecei na ilusão
e sem saber acabei brincando
de ter um coração.

(Cássio Almeida)

Presidiário esfomeado


Quando a porta fecha
e a luz apaga
presidiário esfomeado.
Na escuridão a solitário fede
na barriga a solitário ronca.

(Cássio Almeida)

terça-feira, 1 de abril de 2008

O mate que sorvo de manhã


Vou campeando
pelo mato e descampado
com o cavalo crioulo, de pêlo escuro, queixo quebrado,
e levo o cusco companheiro nas patas, sempre fiel.
Vou campeando
tocando a gadaria, quebrando geada
e levo no pala, o orgulho da minha pampa sulina.
O sangue caudilho ferve na veia,
e a cada pedaço de chão,
dos tempos de 35
se sente ainda a garra da raça farroupilha.
E a cada porteira aberta,
e a cada banhado e coxilha,
eu cruzo devagar, com a mesma calma do dia,
em que sorvo pela manhã, o amargo mate.
Depois volto pras casa
com o sentimento de dever cumprido,
o sol já brilha alto
e o pala eu trago comigo.
Trago também o Rio Grande
nas patas do meu cavalo,
vem na garupa a saudade da amada
e o cusco amigo tras a caça.
E todo dia é assim,
o mate que sorvo de manhã
ilumina a coxilha, aramado e porteira,
pra camperiar solito
o caminho da querência.

(Cássio Almeida)