quinta-feira, 22 de julho de 2010

O agreste dos olhos


Os olhos secaram.
Todas as lágrimas de repente viraram pó,
gota por gota,
esvaíram-se como um fio d'água no solo seco.
O que era mar virou sertão.
Onde terá ido o rio que enchia o meu coração?
Foi desviado pra longe, bem longe, tão longe.
O brilho agora opaco dos olhos
pede e reza que volte logo o brilho claro e sereno
banhado pelas lágrimas.
Mas os olhos secaram.
O sol gastou todo o seu brilho pra rachar o solo onde piso.

O agreste dos olhos arde e queima fogo e chama...

Mas há de chorar,
como chuva em meio ao deserto,
pra de novo florir os campos
encher o mar e o coração
o rio encontrar o caminho,
e os olhos de novo brilharem
como um lindo dia de verão.

(Cássio Almeida)

sábado, 17 de julho de 2010

Último ato

E de repente foi-se a vida
como um suspiro ao vento
como uma lágrima na chuva.
O sol é visto a olho nú, já não brilha tanto.
O coração bate, mas sem uma grande parte.

Enquanto isso um tapete vermelho é estendido lentamente
por um caminho cheio de flores onde um anjo vai passar.
Uma multidão, todos de pé, aplaudem sem ter hora pra cessar,
Os sinos e os clarins já anunciam,
os olhos brilham, os sorrisos largos,
não há lá, quem não saúda sua chegada.
Aqui, só nos resta saudade...

Fecharam-se as cortinas da Terra,
abriram-se as cortinas do céu.

(Cássio Almeida)