segunda-feira, 23 de julho de 2007

Palavras ao avesso


Que simples seria,
até acho graça,
ou algo reprimido.
Que simples seria
escrever, e alguém entender.
Palavras diretas,
palavras ao avesso
que num copo de cachaça
aí sim, tudo se mistura.
Não quero dizer o óbvio,
que em muitas vezes já me bastaria.
Quero dizer algo mais
algo que se leia
e por algum segundo,
apenas algum segundo de uma vida inteira,
alguém pare os pensamentos múltiplos
e perceba,
perceba o avesso da palavra.
Entre linhas,
entre nós,
escondido.
Aquilo que só quem imagina
chega lá,
quem entende sabe,
lugares próprios.
Lá sim,
alguém entenderá,
que palavras ao avesso
dizem algo mais,
muito mais.

(Cássio Almeida)

O tempo e o tonto


Tem vezes que o tempo passa lento.
E o que fazer na lentidão das horas?
Ponteiro parado, segundo infinito.
O tempo passa lento, talvez nem passe.

O tempo engana o tonto.

Tem vezes que o tempo simplesmente passa
e ninguém sente.
E o que fazer no furacão das horas?
No turbilhão dos segundos.

O tempo engana o tonto.

O tempo não muda nunca
tonto é o que acredita.
Mas na revolta das horas
o tempo nos deixa louco.

Quando perdemos a noção do tempo,
o tempo engana o tonto.

(Cássio Almeida)

Primitivos


O homem pré-histórico
de nada sabia.
Fez questão de inventar
fez o fogo, ergueu-se, evoluiu.
O homem contemporâneo
parece saber de tudo
faz questão de reinventar
Taca fogo, ergue muros, e
volta a ser pré-histórico.

(Cássio Almeida)

Êxodo


Um dia o homem do campo
mudou-se para a cidade.
Já acostumado com a vida calma
e sozinha do campo,
agora se via perdido
naquela floresta de pedra e ferro.
O sereno que precedia as manhãs,
agora dava lugar a fumaça sufocante.
O verde já não vira há um bom tempo,
só o cinza do céu poluído.
O rio que corria límpido,
serpentiando as suas terras,
agora nem se move mais, rio?... Esgoto!
Mas um dia a esperança renovou-se.
Da janela do 10° andar
um passarinho então cantou.
Depois de tanto tempo
endurecido de dor,
o homem bruto do campo
pela primeira vez chorou.

(Cássio Almeida)

Barco


O poema vem do acaso
vem de um descuido
eu me destraio
e ele surge.
O poema vem de um suspiro
vem com o vento
vem com a dor, e
com o sorriso.
Ele vem no preto e branco
do passado
ou no mais colorido futuro.
Agora chove lá fora,
e a chuva na varanda
é uma boa pedida.
O poema molhado da chuva.
No fundo a paisagem é um mar.
O mar da tranqüilidade,
o mar da distração.
E no horizonte vem um barco,
e lá vem o barco...
Um barco cheio de poemas.

(Cássio Almeida)

Colorado, guerreiro dos pampas


Muitos me perguntam por que sou colorado...
Quando nasci em Março de 86, o mundo já tinha sofrido grandes mudanças. Já havia passado duas Guerras Mundiais, entre outras tantas guerras.
O Brasil já era tri-campeão do mundo, e, em meu estado glorioso do sul, também já havia um campeão mundial, eu não nego. Fui crescendo, aprendendo e cada vez mais sentindo a guerra que ainda continuava pelos meus pampas.
Não entre Maragatos e Chimangos, mas entre gremistas e colorados.
Passou o tempo, e com isso chegou à hora de alistar-me nesta Guerra Grenal. Nesses exércitos não existe hora certa de alistar-se, nem mesmo obrigação, tanto que muitos até fogem da batalha.
Mas eu não, eu queria sentir na pele aquela rivalidade.
Entrei para o exército dos vermelhos, e isso a gente não explica, a gente sente. E foi o que eu senti quando conheci um dos campos oficiais de batalha, naquele belo e vermelho quartel general na beira do rio.
Eu tenho amigos no exército rival, afinal, esta é uma guerra de paz, não de sangue e sim de desejos. Talvez seja isso que mais me motivou pela escolha que fiz. O desejo de conquistar e sentir na alma, na pele o sabor das vitórias, sentir, e de passo em passo avançar o campo inimigo até a batalha final.
No campo oficial de batalha, apenas onze soldados são escolhidos pelo seu general para o combate. Cabe a nós, oficiais de patente menor, mas não menos importante, torcer e incentivar os nossos companheiros. Não importando se ao vivo, ou espalhados pelos pampas em seus fortins, escutando pelo rádio as informações da guerra.
A cada ano que passa, esse exército vem crescendo. No passado, guerreiros cobriram os pampas de sangue, em batalhas cruéis. Agora no presente, nossos guerreiros cobrem os pampas com o vermelho do nosso manto sagrado.
As pessoas são movidas pelo desejo...
Desejo de viver,
desejo de amar,
desejo de vitória.
É com esses desejos, que seguimos com a nossa batalha guerreada dia a dia. Guerra saudável, guerra da alegria, guerra da rivalidade grenal.
Por mais que eu tente, eu não consigo explicar por que eu sou colorado, eu sempre digo, a gente não explica, a gente sabe, a gente sente.
São os desejos...
Sou do pampa, sou guerreiro, sou colorado. Somos quem faz a onda desse mar vermelho, radioso de luz, orgulho do povo do Rio Grande do Sul.
Se o exército inimigo são os azuis do céu, então façam da vida deles um vermelho do inferno.

Cássio Almeida, colorado e guerreiro do Internacional.

(cássio Almeida)