terça-feira, 20 de novembro de 2007

Passado escrito a lápis


Eu gostava muito de escrever a lápis. Não sei bem por que. Talvez seja por causa das coisas que se tinha devido ao uso do lápis: uma borracha, um apontador e no mínimo outro lápis. Sim, por que tinha uns que você começava a fazer ponta e não terminava nunca, o que acabava mesmo era o lápis. Não sobrava nada, ou melhor, só sobrava a sujeira.
O destaque em termos de lápis na época, eu me lembro, era um lápis meio emborrachado. Todo mundo acabava quebrando o lápis tentando entorta-lo. Era bom de escrever com ele, realmente era o melhor, mas eu confesso que quebrei muitos deles também.
Borracha: lembro-me de duas. Eu sempre quis ter aquela borracha com uma metade azul e a outra vermelha (a parte azul diziam que apagava caneta) eu nem usava muito caneta, mas claro, eu tive que fazer o teste: acabei furando a folha do caderno. Essa história que a parte azul da borracha apaga caneta é pura lenda, pode acreditar.
Mas a minha borracha preferida sempre foi aquela bela e quadrada borracha branca, aquela com uma carinha no meio. Até hoje eu não sei quem é aquele senhor estampado no meio da borracha, que frustração, ele devia ser o inventor da borracha ou algo assim, sei lá. Mas aquela parar mim era a melhor.
O apontador, bom, é um capítulo à parte. Com certeza era o que mais ocupava espaço no estojo, isso quando entrava no estojo. Se tinha uma coisa que não me chamava a atenção, era o apontador. Eu tinha daqueles bem simples. Além disso, eu sempre acabava ficando só com a lámina mesmo. Esculpia verdadeiras obras de artes nos meus lápis e uns dolorosos cortes nos dedos.
Mas o que algumas pessoas possuiam não eram somente apontadores, o apontador era apenas um mero coadjuvante por trás do ator principal.
Na verdade eram apontadores fantasiados de carros, elefantes, casas e o que mais você puder imaginar. O mais impressionante que eu vi foi de um colega. Era nada menos que um trem (ele me disse que o apontador ficava localizado entre o 5º e o 10º vagão, por aí).
Mas apesar de tudo isso, agora só escrevo à caneta, nada de lápis.
Esses dias encontrei umas anotações antigas escritas à lápis, não consegui ler nenhuma frase, de tão fracas que estavam as letras. A única coisa que identifiquei, foi um risco azul de caneta que eu fiz pra testar uma certa borracha da época.
Por isso, nada de lápis. Com o tempo, o passado escrito à làpis acaba sumindo. Agora só uso caneta.
Até que é interessante, tem até um líquido que apaga caneta. Mas eu não uso, eu rasuro e escrevo por cima mesmo, depois eu só passo a limpo.
Eu me rebelo oficialmente com o passado escrito à lápis, agora só escrevo o futuro e na base da caneta, mas sempre com o olhar desconfiado igual daquele senhor do meio da borracha.
Dizem que tem até uma caneta com sete cores diferentes para escolher, é só apertar o botão e deu!
Que frescura!!! Imagina o tamanho da caneta?
Hum... isso táme lembrando aqueles apontadores.

(Cássio Almeida)

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