segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Saudade, saudade


Há dias que a saudade me bate
como quase que ensaiado
as ondas batem nas pedras.
E no recuo do mar vai levando tudo
como o vento me levou
o suspiro que deixei no ar.

O mar então se enche de saudade
dos amores que por terra ficaram
no horizonte a saudade que nos sobra
olhar bem longe os barcos que navegam.

(Cássio Almeida)

Avante

Coragem é que não nos falta
nas águas revoltas dos mares que desbravamos.
Pois o coração forte que nos faz partir
é o mesmo coração tímido
que um dia nos faz voltar.

(Cássio Almeida)

domingo, 30 de novembro de 2008

Sem medidas


Fico feliz quando olho para o mar
e mais feliz ainda quando te vejo.
E me perco nas ondas
como quase sem querer me perco no olhar.

O mar é grande
do tamanho que merece,
já o meu amor, nem imagino.
E fico feliz novamente
pois te amo sem medidas.

Amo na escala que imagino.
Sem pressa,
sem medo,
sem data nem hora,
apenas com amor.

(Cássio Almeida)

Inventar


Eu já inventei mil desculpas para não ir ao dentista;
já inventei mentiras, monstros, sonhos
só pra fugir um pouco da realidade;
já inventei um mundo imaginário
que sempre levo comigo;
já inventei muitas histórias para contar
e acabei contando a minha história;
já inventei de tudo, até o que não sei;
só não inventei essa dor
que as vezes sente-se no peito.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Um velho menino


Como serei quando tiver setenta anos?...
O que terei me tornado,
o que terei conquistado,
o que terei perdido,
as desilusões,
os romances, os amores que vivi.
Como serei?
O que terá ocorrido nesse longo caminho,
onde estarão os meus amigos,
os amigos velhos, os amigos novos,
a minha família.
O que terá ocorrido com o mundo
até os meus setenta anos de vida?
Quantas guerras terão passado,
quantas mentiras, quantas injustiças.
Haverá água? Haverá vida?
Ainda existirão os animais em extinção?
Como serei aos setenta anos?
Serei careca, ou haverá alguns cabelos brancos
contando uma história que não é só minha.
E os outros como serão?
E os dias como andarão?
O caos, os engarrafamentos, as buzinas,
será que haverá espaço para os carros?
E o nosso espaço cada vez mais se traduz
em uma senha de msn.
E a saúde? As doenças, Aids, câncer,
terão descoberto a cura?
Ou será tudo um conto de fadas.
Morro de curiosidade das futuras descobertas sobre o Universo
que até perco o sono tentando imagina-las.
Fico pensando como vai soar aos meus ouvidos as músicas que escuto hoje.
Fico pensando quantos títulos meu time terá ganhado e perdido.
E quantos choros,
e quantos sorrisos,
quantos abraços e beijos
ganhados, negados e imaginados.

Como serei?

Espero ser não apenas um velho
mas um velho menino ainda.
Que fique com a idade estampada na pele,
mas que minha alma ainda corra como uma criança
e siga brincando e brindando a vida e o tempo.
Pois não me assusta morrer um dia,
(em uma teoria minha: não morrerei!),
mas atormenta-me que um dia esse menino canse
e deixe de brincar.
Se isso acontecer, então terei morrido ainda vivo,
e tão pouco importa o resto.
Mas se isso venha acontecer mesmo,
que não venha nos meus setenta anos,
espere um pouco mais,
quem sabe um dia quando o sol apagar-se.

(Cássio Almeida)

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O futuro gentil


Há quem diga que o futuro são os robôs,
que robô que nada
quem tem sentimento é que vive.
O resto... é uma carcaça sem cérebro e coração.
Fazem coisas sobre-humanas,
mas não são capazes de um gesto de carinho.

(Cássio Almeida)

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Por completo

Desculpem-me os corações modestos
os mares revoltos, os ventos que sopram
e os sentimentos dispersos.
Mas não sei amar pela metade.

Amo por completo, e somente.
Não me convém um carinho desperdiçar
se tão sincero no dizer me mostro
tão mais no sentir eu sou.

Amo verdadeiramente coisas pequenas e simples
e nada perde o seu valor
quando amado por inteiro.

Amo por completo, e somente.
Pois não quero que levem de mim
apenas a metade de um sorriso.

(Cássio Almeida)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Nas pedras do mar


Sentado nas pedras
vejo a maré chegar de mansinho
como o vento que agora trás sossego
e o ar frio que lembra de onde sou.

O mar gelado choca-se nas pedras do meu reino
contando segredo das profundezas
sereias do oceano abrem caminho
para enfim entender-me o mar.

Horizonte torto não agora
pois brindo a vida que me acolhe
e o coração ainda segue na direção da correnteza.

Nas pedras do mar sou rei
coroado por mim e pelas ondas
deste reino que verdadeiramente me destrai.

(Cássio Almeida)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Queridas eleições


Época de eleição é algo fantástico. É impressionante como surgem salvadores da pátria, super-heróis, pessoas que mudariam o cenário nacional, e que aos meus ouvidos não parecem idéias novas do que as dos anos anteriores.
Todo ano de eleição é assim, surgem pessoas que eu nunca vi na vida, e outras que eu sempre as vejo. E como são pessoas boas, simpáticas, parecem da família, os melhores amigos de tanta confiança que nos passam. As mesmas pessoas que não parecem ás mesmas depois das eleições.
Agora não se pode mais fazer comícios e showmícios, que eram típicos nas eleições. Agora os políticos têm que fazer seu próprio comício particular, no cotidiano das ruas, de casa em casa. Eu pude comprovar isso na minha cidade natal, cidade pequena, e por isso mais fácil de identificar as carinhas, cidade pequena todo mundo se conhece. De férias na minha cidade, bastou uma tarde para vários candidatos irem me visitar. Bateram em minha porta, de todos os partidos, e mais uma vez como se mostraram amigáveis, simpáticos, os mesmos que um dia já me viraram á cara.
Não quero generalizar, estereotipar, claro que existem os verdadeiros, que realmente são o que são, mas não me passam os oportunistas, os interesseiros que levantam uma bandeira que na casa deles estava atirada suja como pano de chão, siglas de um partido que nem sabem o que significam, apenas letrinhas.
E em quatro em quatro anos é assim, surge o partido PREPB, Partido dos Renovadores da Esperança do Povo Brasileiro. E eles realmente são os melhores. Nos batem na porta, entram em nossa casa, apertam as nossas mãos, nos dizem um texto magnífico, e a gente ingenuamente acredita.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Mãe, deu!


Quando tinha uns 8 ou 9 anos eu imaginava que quando tivesse uns 22 por aí, eu ia ser formado, casado e com um filho a caminho. Talvez por que aquele 22 me parecesse tão distante, e de fato eu achava que não ia chegar nunca. Mas o tempo passa rápido e a gente nem percebe.
Chegou os 22, eu ainda não estou formado, penso em me casar (mas ainda não), e um filho agora só se acontecesse um deslize. Mas está tudo nos conformes, afinal, aquele meu pensamento é o que muitos pensam em relação ao futuro quando se é criança.
A gente vai crescendo e aprendendo muita coisa, vai construindo seu próprio caminho, amadurece, você deixa de brincar de carrinho, nasce barba, fica com cara de mais velho, deixamos coisas para trás, mas uma coisa nunca perderemos, que é o lado criança que levamos dentro de nós. É o que me parece, mas vai saber o futuro, de repente esse lado pode sumir. É o que realmente me assusta e me dá medo.
Atormenta-me que um dia eu possa esquecer esse meu lado criança, e me tornar apenas um adulto, de corpo e alma. A infância é o que nos preserva jovens, a pele é apenas uma capa protetora que protege o mais importante que é a nossa alma. O corpo vai envelhecer, mas que nunca envelheça o meu espírito de criança.
Quando estava no banheiro e gritava: _ Mãe, deu! Eu estava sentado no troninho, imaginando como seria o futuro quando tivesse que me virar sozinho. Hoje aquelas palavras me dizem muito mais, não são apenas palavras, mas uma página da nossa história que eu quero que fique guardada para sempre.
Aquela história que toda criança é eterna, eu levo ao pé da letra, é a minha filosofia de vida, eu sou um bobão, um crianção e não me envergonho disso, pois me recuso a renegar a minha felicidade.
Tá certo que eu já não grito mais do banheiro, mas me dá uma saudade.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Dia D


Dia D destrói,
dinossauros, duendes, dumbos, Duartes, decotes,
desertos, dromedários, doutores.
Delirante dia D,
durmo de dia, danço,
dedilho, doem dedos,
dobram dinheiro,
dinamitam deveres.
Dia D desafiador,
desafiam Deuses, demônios,
dragões, dráculas, donzelas.
Dias delas denominam devoções,
decoram, desfilam.
Desgraçados ditadores,
dominam, ditam, detonam.
Desertores desistem
decorrentes da dor.
Dois, dez, doze, duzentos,
descongelam delírios,
descem devagar, divagando.
Dia D, dos diamantes,
dos dominós, dos dentes,
dietas desconfortantes.
Dopados desinfetam diagnósticos
descrevem diários,
delimitam destinos.
Dia D,
do descobrimento
diante do desespero
danadinha dama
despiu-se do descobridor.

(Cássio Almeida)

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Aimer


Por que gostamos de quem gostamos?

Pergunta sem resposta,
não existe lógica que explique o de repente.
É como o mar,
não sabe-se o que a maré trará
de repente a onda vem e nos acerta.

Fosse fácil, fazia do meu jeito.
Quem sabe tocasse uma música no alto da Eiffel,
ou escrevesse o nome no Arco do Triunfo.
Isso é Aimer...

Eu gosto por que gosto,
sem culpa, nem pressa.
Não brigo com as horas,
prefiro aliar-me ao tempo.

(Cássio Almeida)

Ventrículo


Hoje achei que o meu coração fosse pequeno
por que sempre está cheio, transbordando,
explodindo.
E talvez não tivesse lugar pra mais ninguém.

Que nada,
coração pequeno é lenda.
A diferença está em nós,
cada um da sua maneira
ou o diminui, ou o engrandece.

O que diferencia é o que sentimos.

Meu coração não é pequeno,
meu amor que é gigante.

(Cássio Almeida)

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Um lugar distante


Aquele lugar distante
tão perto no pensamento,
passos firmes,
mas os olhos inquietos.
Me convém certo ou não
distinguir os elementos
concreto,
oco,
aquele zunido que segue no ouvido.
E aquele ar,
e aquele clima,
e aqueles, e aquelas,
e aquilo...
E afinal o que é isso?
São coisas que ficam
na memória não sei,
quem sabe no peito
e a certeza da volta.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O que nos fica dos avós


Dos avós fica aquele sentimento infinito
infidável, como os beijos, os abraços,
os presentes, a eterna proteção mesclada de pai e mãe.
Nos fica as mãos velhas do tempo a nos acariciar,
o café da tarde,
as lembranças do almoço no Domingo.
Nos fica as histórias de quando eram jovens,
e de como tudo era diferente,
um tempo distante.
Nos fica as pescarias a beira mar,
ou num açude qualquer,
e o peixe era o que menos importava
o bom era estar junto.
Nos fica a testa franzida
quando não fazíamos as coisas do jeito deles,
um tempero diferente,
um corte de grama esquisito,
uma carne mau espetada...
Na verdade eles sempre quiseram nos ensinar o melhor.
Nos fica o rosto atento do vô escutando as notícias no rádio,
e o rosto atento da vó esperando o bolo crescer.
Nos fica a felicidade estampada na cara
quando contavam proezas da juventude,
festas, brigas, namoros, histórias dos nossos bisavós.
Nos fica o orgulho deles a nos segurarem no colo,
e ao caminharem nos segurando a mão.
Dos avós nos fica os conselhos para se ter uma vida boa,
para sermos uma boa pessoa,
para sermos alguém,
eles nos ensinam a ter caráter.
Conselhos que me ensinaram a ter um coração gigante,
conselhos que nos ficam para sempre,
guardados,
junto dos beijos, dos abraços,
junto do amor deles.
Dos avós,
nos fica tudo.

(Cássio Almeida)

O sussurro da palavra


Um lápis,
uma caneta,
um giz,
um tijolo de construção.
Um carvão,
um batom,
um vidro embaçado,
um graveto na areia.
Um canivete na árvore
e mil mensagens de amor.
As diversas formas de escrever
para se ter a certeza
que nunca se encontrarão
a palavra e o silêncio.

(Cássio Almeida)

Falando de solidão


Um dia me disseram da solidão
que contradição,
sozinho anda alguém
a solidão nunca anda só.

(Cássio Almeida)

terça-feira, 1 de julho de 2008

As coisas simples que há


Parabéns pra você
que anda descalço sem a preocupação de sujar o pé;
Parabéns pra você
que toma banho de chuva sem medo de se resfriar;
Parabéns
pra quem vê Chaves e ainda ri;
Parabéns pra você
que se emociona quando lembra do Ayrton Senna ou
dos Mamonas Assassinas;
Parabéns
pra quem pede bis quando a música é boa,
ou quem aplaudi quando não é tão boa assim;
Parabéns
pra quem canta, mesmo que seja desafinado;
Parabéns
pra quem lê gibi e torce pro Cebolinha não apanhar da Mônica;
Parabéns pra você
que ri mesmo sem ter graça,
pra você que pede pra explicar de novo;
Parabéns pra você
que sabe pedir desculpas, e sabe dizer obrigado;
Parabéns pra você
que sussurra um eu te amo;
Parabéns
pra quem senti saudade,
pra quem foge sem rumo certo,
parabéns pra quem sabe voltar.
Parabéns pra você
que sabe valorizar os amigos,
porque os amigos é o que há.
Parabéns pra você
que toma um porre de vez em quando;
Parabéns pra você
que abre o coração e diz tudo o que senti;
Parabéns pra quem escreve um poema,
mesmo que seja uma bobagem,
porque a bobagem é o que há.
Parabéns pra você
que erra mas aprende;
Parabéns pra você
que come sorvete até no inverno;
Parabéns pra você
que come brigadeiro e se lambuza todo;
Parabéns pra você que acha que é sempre verão;
Parabéns pra quem sonha,
pra quem não desiste,
pra quem trabalha,
pra quem corre,
pra quem pula e grita gol.
Parabéns pra quem ainda vai imaginar um monte de coisas.
Parabéns...
Uma salva de palmas pra você que é feliz,
que valoriza as coisas simples da vida,
pois a vida,
é o que há.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Porque nascemos chorando


!!! Buááá Buááá !!! Mais um que nasce.
Porque nascemos chorando, ao invés de dar um belo sorriso?
Dizem que o choro é um sinal que tudo está bem com o bebê, que está com saúde, que está vivo.
Mas que sinal melhor de tudo estar bem do que um singelo sorriso.
Dizem: _ Ah, mas é do instinto dos bebês nascerem chorando.
Mas porque não ser do instinto nascerem sorrindo, brindando a vida, o novo mundo que chega... O mundo.
Tragédia em Nova York, terroristas fazem atentado as Torres Gêmeas;
Estados Unidos invadem o Iraque, e as baixas continuam;
Tsunami devasta parte da Ásia e desabriga milhares de pessoas;
Pai prende a filha por mais de 20 anos em quarto no subsolo;
Menina Isabela é atirada da janela do seu prédio, suspeitos são o pai e a madrasta;
Salário mínimo aumenta dois reais;
Deputado gasta mais de mil reais em cesta de lixo e um abridor;
Mulher é detida por roubar um pote de manteiga;
Em outro canto alguém ri com o dinheiro na cueca;
A água está acabando;
O calor está aumentando;
Esses dias um vulcão no Chile entro em erupção;
E esses dias o Brasil tremeu;
Dizem que no SUS, no INSS, e no barzinho na esquina tem uma fila gigantesca;
Nasce uma criança no Brasil a cada três segundos;
!!! Buááá Buááá !!! Mais um que nasce. (Na barriga da mamãe está quente, estão protegidos).
Talvez o instinto dos bebês seja a beira da premunição, e adivinhe o que está vindo. Por isso não sorrir, por isso nascem chorando.
Talvez eles não queiram mais nascer.

(Cássio Almeida)

terça-feira, 24 de junho de 2008

Uma canção para alguém especial


Procurarei as frases certas
a melhor simetria
e sussurrarei ao seu ouvido
a canção perfeita.
Uma canção que te faça rir,
que te faça sonhar,
uma canção que te faça suspirar.
Escreverei mil vezes se for preciso,
e escreverei, escreverei, escreverei,
e cantarei aos quatro cantos
uma canção para alguém especial.
Que seja suave, serena,
que te faça feliz
e não faça esquecer de mim.

(Cássio Almeida)

Amar o mar amor


Amor, amar o mar
pois é nele que vamos navegar
por aí apenas, sem pressa
sem bússola a nos guiar.
Amor, amar o mar
só nós dois a navegar
e ver como somos pequenos
diante de tanta imensidão.

Corre, corre, corre
como um rio que se desloca para o mar
vêm como o vento, como a dor,
vêm como um sorriso fácil.

Dizem que existem por aí
almas de pedra, olhos de pedra
que não se desgastam e enfraquecem
nem com a chuva forte.
Então coração não há.

Amar o mar amor
e ver que há horas que todos são iguais,
deixe que o horizonte mostre
como o mar é grande,
que as vidas passam,
e que as pedras também choram.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Os jardins onde o sol bate mais forte

Talvez um dia vamos
aos lugares que sempre escolhi
e caminhe pelos jardins
onde o sol bate mais forte.
E voltemos a brincar descalços
sem a pressa da hora
e sem o medo do tempo.
Que continue o medo do escuro
e de um tal velho do saco.
Que me preserve as lembranças
onde tudo foi bom
que continue os mares
e os lugares que ainda não fui
seja tudo aquilo que eu ainda não sei.

(Cássio Almeida)

terça-feira, 27 de maio de 2008

Velhos caminhos


Ando solto sem fronteiras
vôo longe
como pássaros que migram.
Não me convém o caminho escolher
no meio da encruzilhada sigo o meu coração.
Pois a vida que escolhi é mar
tão imenso, cheio de mistérios
que nos dá inspiração e força
visto pelos olhos certeiros.
Quando muito é profundo apenas
como um abismo sem fim
visto pelos olhos errados não sei
apenas quem sabe
ainda não avistaram o horizonte.
Fui pelo caminho que o coração escolheu
e sabe-se lá o que a maré nos irá trazer
guardo tudo.
Pois quando o mar secar
o sol apagar
e o coração esvair-se
de tudo terei guardado
começará o momento nostálgico
e visitarei os velhos caminhos.

(Cássio Almeida)

São e o Dragão


O tempo errado que eu não sei
talvez na vida real nunca existiu
e o São sozinho
hoje São de todos derrotou o Dragão.
Libertou o espirito bandido
que hoje cospe fogo nas ruas
vaga a solta, a nos soprar os ouvidos.
Agora matamos o Dragão e não mais o leão,
e o guerreiro São que ainda nos vive
segue a caça com o seu cavalo branco.
E nas batalhas da vida
somos nós os guerreiros de São
a brigar nos dias de hoje
com a alma do Dragão.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 30 de abril de 2008

O traje

Tenho medo de você
que não sei com quem converso.
Você que faz parte de alguma coisa
que faz parte do futuro
que também irá construir
que irá moldar ao seu modo
e que eu não sei se vou gostar.
Eu não sei se você é do mal ou do bem.
Se for do mal, mal vestido,
esse traje que o botaram,
que te esconde,
que te nega,
que diz quem você não é,
que transforma tua imagem no espelho,
dispe-se.
O traje agora é tragico,
mas se for do bem, ainda bem,
se for do bem, bem melhor.

(Cássio Almeida)

Tropeço

Como escondem os sentimentos
uns certos alguém.
Esconde por que não tem?
Ou será que esconde-se bem?
E o meu sentimento que não é invisível
segue a vagar a procura do teu.
Um dia sem querer tropecei na ilusão
e sem saber acabei brincando
de ter um coração.

(Cássio Almeida)

Presidiário esfomeado


Quando a porta fecha
e a luz apaga
presidiário esfomeado.
Na escuridão a solitário fede
na barriga a solitário ronca.

(Cássio Almeida)

terça-feira, 1 de abril de 2008

O mate que sorvo de manhã


Vou campeando
pelo mato e descampado
com o cavalo crioulo, de pêlo escuro, queixo quebrado,
e levo o cusco companheiro nas patas, sempre fiel.
Vou campeando
tocando a gadaria, quebrando geada
e levo no pala, o orgulho da minha pampa sulina.
O sangue caudilho ferve na veia,
e a cada pedaço de chão,
dos tempos de 35
se sente ainda a garra da raça farroupilha.
E a cada porteira aberta,
e a cada banhado e coxilha,
eu cruzo devagar, com a mesma calma do dia,
em que sorvo pela manhã, o amargo mate.
Depois volto pras casa
com o sentimento de dever cumprido,
o sol já brilha alto
e o pala eu trago comigo.
Trago também o Rio Grande
nas patas do meu cavalo,
vem na garupa a saudade da amada
e o cusco amigo tras a caça.
E todo dia é assim,
o mate que sorvo de manhã
ilumina a coxilha, aramado e porteira,
pra camperiar solito
o caminho da querência.

(Cássio Almeida)

segunda-feira, 31 de março de 2008

Pelo meio fio


Eu sigo sempre assim,
pelo meio fio.
De um lado loucos, monstros imaginários,
que de fato sempre me assombraram.
Do outro,
precipícios, buracos negros,
lugares nunca vistos, convidativos ao deserto.
Pra não sair da linha eu sigo assim,
pelo meio fio.
Passo por passo, mas sem medo de cair.
Assim conheço os mundos novos,
e toda a sua filosofia,
são universos espalhados pelas ruas.
O meio fio é a ponte
de um rio que corre sem fim.

(Cássio Almeida)

sábado, 29 de março de 2008

Olhos alheios


O que será que me vêem
os olhos alheios,
a distância observam
e conspiram.
O que será que me pensam
aqueles olhos distantes
que tão perto, não dizem nada.
O que será que me dizem
aqueles olhos fechados
queria eu que nunca se fechassem.
Será o mesmo olhar meu
que sem saber me entrega.
Há um choque de olhares
em todo o lugar.
E se confrontam, e se tocam,
e se imaginam.

Olhares múltiplos,
que também podem ferir,
o olhar também feri.
Mas nem se preocupe,
um olhar também vai te curar.

Mas olhar divino mesmo,
os que não possuem olhar.
Enxergam com as mãos e com o som.

E não importa o olhar.
Pois no final o que vai contar mesmo
é o olhar que nos chega ao coração.

(Cássio Almeida)