quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Um rio no meu quintal


Qualquer hora dessas me serve
pé na estrada e vou.
A estrada que ia, mesma estrada que vem.
E não me escapa qualquer detalhe
gravado pelos olhos.

No meu quintal há um rio
onde navega a minha imaginação
vou até onde o rio possa me levar
não tenho medo não
do que possa encontrar
pego carona na correnteza e vou.

Eu deixo para trás a minha rua,
a minha sombra da Figueira,
e vou navegando por aí.

Há um rio no meu quintal
e pouco importa onde possa me levar
uma hora chegará o mar,
uma hora chegará o mar.

(Cássio Almeida)

Horizonte, amor e maresia


O amor é como o mar...
Ao mesmo tempo,
lindo e perigoso.
Há tantas razões para o amor
entre um olhar e o horizonte
que o próprio coração desconhece.
Razões inúteis.
Pois se tratando de amor,
não há razão suficiente
que defina ou resuma
a verdadeira razão
para amar.

(Cássio Almeida)

De janela aberta


Do 3º andar
no prédio que morava
no quarto que dormia
de janela aberta
pela janela eu sonhava.
Acordado ainda
eu via a luz da lua
e quando não tinha
eu então contava mundos
chamando o sono que fugia.
E tomava um susto
quando um morcego, uma coruja,
desembestada a bater no vidro.
No dia de noite cinza
relâmpagos ao fundo
clareava tudo.
Trovão! Tremia o vidro,
e começava a chuva sonífera.
De repente me pegava
sonhando acordado.
A janela dos olhos ainda pesados
fui molhar a cara na chuva.
Já tinha futuro,
a chuva,
já tinha passado.

(Cássio Almeida)

Salgueiro


Feliz estou.
Tão feliz que o dia até percebe.
Até sorriu para mim
o choroso Salgueiro.
Mal sabia que sua sombra sim
fazia-me feliz.

(Cássio Almeida)

Encruzilhada


Estou confuso,
muito confuso.
Norte, sul, leste, oeste...
Ir e ver o que acontece
caminho certo ou não.

Quem sabe fico,
e espero me encontrarem.
Talvez ninguém passe,
então me perco outra vez.

Quem sabe sigo o vento,
espero a noite sigo estrelas.

Talvez a vida seja se perder
o difìcil é se achar
mas deve ter sentido,
essa tal encruzilhada.

Estou confuso,
muito confuso.
Quem sabe a vida é se encontrar
quem sabe a vida é se perder.
Norte, sul, leste, oeste...
Talvez tudo fosse assim,
e minha mente fosse bússola.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

A casa da árvore


Engenheiro criança que era
fabricava aquela casa da árvore.
Sem cálculos, ora, sem cálculos,
apenas madeira, serrote,
prego e martelo.
Algumas horas, alguns cortes nos dedos,
algumas felpas e marteladas nas mãos.
Mas enfim estava lá,
pronta para habitar,
e talvez pronta para cair,
acho que precisava de cálculos, ora, de cálculos.
Mas engenheiro criança ingênuo que era
fabriquei aquela casa da árvore.
Casa minha, caso queiras,
aluguei a casa.
Inquilinos da imaginação.
Moram agora ali,
no topo logo acima do mundo,
sob um céu de vidro,
sob um céu de mistérios,
que só mesmo nos sonhos
um dia possa endendê-lo.
Pois nos sonhos, o que não é possível?
Talvez no lugar onde se fabriquem os sonhos
encontre algum universo mal resolvido.
Casa minha, caso queiras,
aluguei a casa da árvore.
Inquilinos da imaginação.
Engenheiro criança sem limites que era
sem querer fabriquei
a casa dos sonhos.

(Cássio Almeida)

Entre a sombra e o horizonte


No retrato que me faço
desenho um mar imenso
onde as pessoas possam ver
em seu horizonte distante
a longa vida que tracei.
Onde cada onda é o meu respiro
onde cada onda é o meu anseio.

No retrato que me faço
desenho uma imensa e velha árvore
onde as pessoas possam ver
em seus galhos e folhas
a longa vida que eu deixei.
Onde a seiva é o meu sangue
onde a sombra é o meu descanso.

Eu me retrato entre a sombra e o horizonte

Entre eles há um vida
que retrato como o vento.
É o destino soprado
onde os tufões são os problemas
e a brisa... conquista!

Retrato-me um mar.
Onde a maré trará lembranças
e o horizonte saudades.

Prefiro seguir assim...
No embalo da maré
entre a sombra e o horizonte
e sem saber amanhã
como o vento soprará!

(Cássio Almeida)

Fúria do mundo


O ventre da mata pega fogo
matando o filho da flor
que germinava.
A borboleta do casulo
nem saía,
e o bicho preguiça,
nem teve tempo de acordar.
Em outros cantos do planeta
o mundo monstrava toda a sua fúria.
A terra tremia de nervosa,
e o mar que era calmo,
agora devastava tudo.
A montanha com raiva
vomitava fogo.
E o vento que era brisa,
soprava a mil por hora.
Enquanto isso na mata...
Os animais gemiam de dor,
e o grito dos pássaros ecoava
um grito de socorro,
esperando "sem pena",
que o dia chore por elas.

(Cássio Almeida)

Guidom

Eu quero ir,
mas não sei se vou.
No canto escuro do quarto
a parede sussurra no ouvido.
A janela tão longe e,
mais longe ainda o mundo atrás dela.
Ela, janela!
Pois ela, meu amor,
está dentro de mim.
Há tantas dúvidas lá fora,
então por que não ir?
Se sou eu que controlo o mei guidom.
O guidom é leve,
mas no caminho que faço
eu guio com calma.
Cá fora o Mundo é Grande,
não tão grande
como o mundo de Drummond.
E o meu olhar largo
não avista tudo.
Porém,
Enxerga a fronteira dos homens.
A fronteira entre a loucura
e a santidade.
Entre a mentira e a verdade.
A fronteira entre o óbvio
e a mais pura filosofia insana
que o homem possa criar.
Ainda há muito aqui fora.
E o meu diagnóstico
mantém-me forte pra viver,
viver as coisas que virão.
E ao longo do caminho
as diferentes faces se cruzarão.
Não sei ao certo onde.
Pois o guidom do tempo caduco
inutilmente,
insiste em freiar.

(Cássio Almeida)

Tímido coração


Ás vezes pareço sentir o peso do mundo.
Não esmagando o meu corpo,
mas torturando a minha alma.

Vivemos no mesmo mundo
e num mundo tão distante
acho que é só explicar
ah! Quem me dera fosse fácil assim.

Se o teu corpo fosse mar
e nele pudesse navegar
já me bastava um barco à vela
para em tua alma naufragar.

Se o teu corpo fosse flores
e o aroma pudesse sentir
já me bastava uma pétala
para ser o mais bonito jardim.

Se o teu corpo fosse céu
e nele pudesse voar
já me bastava um pedacinho
para ser meu imenso universo.

Se o teu corpo fosse o caminho
e nele pudesse me perder
seguiria os seus passos
e cruzaria por você.

Vivemos no mesmo mundo
e num mundo tão distante...

Ah! Se o teu mundo fosse meu
e nele pudesse viver
já me bastava um sorriso
para se despir o meu coração.

(Cássio Almeida)

Vida cicatriz

"Eta" vida caduca
que corta a minha alma
que cicatriza com o tempo
tempo corrido com o vento
vento soprado pelo gigante
gigante cansado da batalha
batalha guerreada dia a dia
dia que recomeça,
dia que não tem fim.

(Cássio Almeida)