sábado, 16 de fevereiro de 2013

Prefácio do meu livro de crônicas, "TAÇAS DE VINHO E OLHA O QUE A GENTE FAZ!"


              TAÇAS DE VINHO E OLHA QUE A GENTE FAZ! 
. Preparo-me para escrever. Apanho uma taça, que em seguida se multiplicará aos meus olhos. Abro uma garrafa de vinho, preferencialmente uma garrafa de vinho tinto seco (preferencialmente qualquer tipo de vinho), e degusto com muito prazer. Como um enólogo, aprecio cada gota, mas não se preocupe, não sou daqueles que cheiram a rolha, deixo isso para os especialistas. Sou especialista somente em bebê-lo.
E impressiona-me como as palavras surgem do nada, vão nascendo, entreveram-se entre as linhas, às vezes uma por cima das outras, vão transbordando como o vinho em meio às taças, e o significado etílico que as palavras tomam, me levam a um mundo inacreditável, imenso, onde os meus olhos brilham e onde o horizonte se multiplica. Quais sentidos por entre as margens? Como explicá-las?
Tais palavras se misturam com o vinho derramado sobre as folhas, e chego a imaginar os “cronopios” de Cortázar, como um desenho fora da margem, como um poema sem rima.
O mundo das palavras é mágico, como acho mágico o ato de viver. Aprendo com cada momento vivido, e uso cada ensinamento que a vida nos trás (às vezes magnífico, às vezes doloroso) para transformar o mundo nem que seja um pouquinho. E não se damos conta que somos nós mesmos que mudamos.
E o que o vinho me ensinou, mesmo nas entrelinhas das garrafas fechadas, mesmo nos confins da infância, ensinou-me o valor de algumas coisas, que quero compartilhar com vocês. De um tropeçar na calçada quando criança às “viagens” inesquecíveis de um entardecer.
O mundo particular é tão imenso, que o meu escrever é apenas um grão de areia em meio ao deserto. Mas se for infinito descobri-lo, que seja infinito desvendá-lo.
A vida é bela, já diziam... Viver e beber da sua fonte, mais belo ainda.



segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A tragédia de Santa Maria

A DOR QUE O MUNDO INTEIRO SENTIU

Que tragédia esta de Santa Maria... Que Domingo pesado, que Segunda dolorosa. Quando acordei ontem, já início de  tarde de Domingo, tudo já havia acontecido, os sites "vomitavam" aquelas imagens horríveis explicando tudo o que aconteceu na Boate Kiss de Santa Maria. Fui lendo e a cada linha e depoimento era como se fosse uma vida próxima que havia sido tirada de mim. Foi impressionante, chocante, triste mas necessário dizer, desde a morte de minha mãe em Julho de 2010 não sentia um nó na garganta como senti neste trágico Domingo de Janeiro.

A vida é nada... As nossas vidas são muito frágeis. Vendo esse episódio, refletimos, e percebemos que poderia ter sido com qualquer um de nós. Foi aqui do lado que ocorreu, uma cidade universitária que nem Pelotas, cidade em que vivo, e que tantas vezes nos deparamos em festas iguais aquela de Santa Maria. 

Talvez pela proximidade a dor nos bata mais forte, "seja mais real". Pois nem aqueles massacres escolares que ocorreram nos Estados Unidos mataram tanta gente como aconteceu aqui, bem aqui do nosso lado. E a gente sente. Ontem, eu e minha namorada assistíamos na TV as matérias sobre a tragédia quando de repente o celular dela toca. Era uma colega nossa de Faculdade ligando pra ela, chorando, desesperada por que havia perdido um amigo naquela festa.

O mundo é um grão de areia... e o mundo inteiro sentiu essa dor inexplicável, reportagens no mundo inteiro noticiavam aquilo que foi uma tragédia planetária, não apenas uma fatalidade local, mas famílias de todos os lugares choravam imaginando mães e pais que não mais teriam os seus filhos para abraçá-los. Eu não pude dar um último abraço em minha mãe de despedida, imaginem essas mães que nunca mais poderão abraçar seus filhos de volta. A vida é muito frágil, e passa tão rápido como fumaça pela fechadura. Assim como, infelizmente, a fumaça negra da morte asfixiou mais de duzentas vidas que minutos antes respiravam e celebravam  a alegria de viver.

Assim como nós fazemos a todo momento. A maioria pensa a mesma coisa, poderia ter sido um de nós. Que bom que não foi, que triste que foram eles. Todo mundo já falou e tentou demonstrar algum sentimento perante esse trágico acidente, eu também estou tentando. E no que ajuda??? Não sei dizer, sinceramente nada mudará e nada amenizará a dor dos seus familiares, mas é uma dor que o mundo inteiro sentiu, e eu no meu interior também senti algo diferente, pesado, que me fez sentir aquele nó na garganta. 

Por isso escrevo. Pois somente o pesar não externaria todo o sentimento que o acidente causou em mim.
Fatalidade! Não vejo culpados, nem aponto o dedo pra ninguém. É difícil, mas não seremos hipócritas neste momento de julgar culpados por essa fatalidade na casa noturna Kiss. Pois todos sempre fomos e estamos em lugares tão mais inseguros quanto aquele, e amanhã, ou depois e depois, estaremos todos nós felizes, cantando, dançando, pulando e bebendo novamente sem percebermos que a vida, pode acabar tão rápido quanto um piscar de olhos. Apenas tivemos sorte até agora...

Tenho certeza que aqueles jovens também pensavam: "Nunca vai acontecer com a gente"...

Meu pesar a todas as famílias daquela tragédia. Sigamos aqui, vivendo a vida sem medo de vive-la, somente um pouco mais atentos.

Foi aqui do lado, a fumaça parece estar invadindo a minha sala. O mundo é um grão de areia, a vida é frágil, e passa tão rápida como fumaça pela fechadura.

Meu pesar a todas aquelas famílias que hoje choram e ainda sentem a dor que o mundo inteiro sentiu.

♫"...Tudo é dor,
e toda dor vem do desejo,
de não sentimos dor..."♫


terça-feira, 4 de dezembro de 2012

SISOS E APÊNDICE


Sisos e apêndice – ainda os tenho. E ainda me pergunto por que o corpo humano não evoluiu o suficiente (já evoluiu tudo?) ao ponto de extinguir os sisos e o apêndice da gente. Ora, se de nada nos servem, para que existir? De certo somente aos dentistas e cirurgiões possam servir e fazer algum sentido, aos nos tirar. Pois de útil, nem mesmo a dor.

Ainda os tenho (medo?). Nunca ouvi alguém dizer dos benefícios dos sisos e apêndice no nosso corpo, somente prejuízos. Os sisos além da dor podem acarretar no “entortamento” dos outros dentes. Medo dos sisos por isso, talvez. Os meus misteriosamente nasceram e encaixaram-se perfeitamente na minha arcada dentária, por isso, deixe-os quietos. Meu sorriso ainda brilha sem a dor e o prejuízo dos sisos, senti-os somente quando nasceram. E o meu apêndice (acho que o tenho) nunca me incomodou. Mas de nada nos servem me disseram. Mas quando se está “doente do apêndice” (apendicite aguda?), dizem ser uma dor muito forte e é preciso urgentemente operar e retirá-lo, ates que, após o inchaço, ele exploda dentro de você e faça um grande estrago, dizem até perigoso. Ora Deus, para que ainda existe? O meu nunca se manifestou, deixe-o quieto.

Talvez o vinho faça bem (para o coração e os devaneios eu sei que faz). Por sorte nunca tive grandes lesões, mesmo na infância endiabrada, com lapsos de alpinista profissional, nas mais altas árvores e muros e grades. Nunca me “quebrei”, literalmente, nunca tive grandes lesões, mesmo querendo na escola usar gesso para que os colegas nele assinassem.

Nunca sofri de grandes dores. Na verdade a dor e a lesão mais grave que eu lembre é a que estava no momento em que escrevia esse texto. Estava me doendo muito o dedão do pé direito (acho que “destronquei”), fruto de um jogo de futebol com mixto de MMA, era com amigos, mas foi uma dividida digna de final de Libertadores.

Cortes, estes sim, já tive alguns dolorosos e profundos. Minha mãe me contava que um dia quando criança cai de cara em dois pregos, um cravou a cima de um olho e outro abaixo do outro, que sorte eu tive, poderia ter ficado cego, mas o máximo que aconteceu foi ao me levantar estar com uma tábua cravada na cara.

Mas o mais marcante é a grande cicatriz que ostento no pulso direito. “Como aconteceu?”. Pois bem, eu era pequeno, talvez uns 5 ou 6 anos, minha mãe carregava um garrafão de vinho (ahhh o vinho, já fazia parte desde a infância), olhei para ela com aquele olhar que só uma criança e um filho consegue fazer e desmontar qualquer coração de mãe, e disse:

_Mãe, deixa eu levar?

Minha mãe: “_Não! Vais cair e te cortar!”, (óbvio, era minha mãe, ela me conhecia).

Aí começou a batalha entre mãe e filho: “Deixa mãe”, “Não vais cair e te cortar”, “Ahhh deixa mãe”, “Não, vais cair e te cortar”, “ahhhhhhhhhh mãe deixa, que que tem...”. Claro que ela não resistiu ao meu olhar (olhar, até parece). “_Tá!!! Leva!!!”

Dei dois passos com o garrafão, tropecei e cai.

Minha mãe: “_Ah meu filho, eu te falei... (sábias mães).
Eu: “_Ahhhhh o vinho...”

Misturou-se sangue com vinho e até tive uma visão bíblica.
O vinho, sempre marcando as nossas vidas.

O coração, o cérebro, as pernas, os pés, as mãos, os braços, o fígado, os rins, o estômago, os olhos, o nariz, a boca... Tudo com suas funções especificas e complexas, tudo com algum sentido. Mas os sisos e o apêndice, desculpe meu criador, mas está sobrando peças nesse quebra-cabeça.

Foi o vinho, eu sei, o vinho.




terça-feira, 16 de outubro de 2012

Prefácio do meu livro A DOR PERPÉTUA... em construção






Prefácio

Como os outros, ele estava nu, amarrado pelos pulsos e tornozelos numa cruz como se fosse um Jesus Cristo. Chorava e urinava-se apenas imaginando o que aquela desgraçada insana seria capaz de fazer. A mente com certeza já estava totalmente destruída. Assim como a minha e a dos outros quatro padres, que enfim, foram libertos.
Talvez a dor não fizesse mais efeito, pois a mente já nos torturava 24 horas por dia, e realmente deveria ser essa mesmo a sua intenção, não somente a dor física, mas acima de tudo a dor psicológica. Estávamos ficando loucos. Mas isso era apenas mais um delírio humano que ainda restava da minha consciência. Ainda existia a dor, uma dor inimaginável, os gritos não deixavam dúvidas.
Com a mesma frieza de sempre, ela aproximou-se dele com um alicate e uma tesoura em suas mãos:
_Abra a boca!!!
_Não, por favor, não...
Enquanto ele implorava misericórdia chorando como uma criança, ela colocava à força o alicate em sua boca com uma força desproporcional, fazendo quebrar-lhe alguns dentes, puxou sua língua para fora da boca e a cortou com a tesoura. O sangue escorria pela sua boca e o seu corpo enquanto urrava de dor e debatia-se inutilmente tentando se desvencilhar das amarras. Ela não demonstrava nenhum tipo de sentimento, nenhuma expressão e dessa vez nenhuma palavra, como querendo acabar de uma vez com o seu objetivo. E eu não sabia o que aquela louca seria capaz de fazer a cada passo que dava, mas eu sentia que tudo estava perto do fim e nada ia fazê-la parar.
_Acabe logo com isso! É a mim que você quer.
Era como se eu fosse invisível.
Com a mesma tesoura, decepou as suas genitálias e eu a senti sussurrar – tanto faz para vocês não é mesmo-. Os gritos de dor pareciam mais agoniantes sem sua língua na boca. O seu rosto tinha expressões que jamais havia visto numa face e quando sua cabeça virou em minha direção e os seus olhos encararam os meus, um sentimento invadiu a minha alma e pela primeira vez naqueles dias, entrei em desespero e comecei a chorar de medo e pânico. Então ela olhou para mim e terrivelmente esboçou um sorriso tal qual a inspiração do seu nome.
Mona agarrou um galão de gasolina e banhou o corpo de Césare, logo em seguida riscou um fósforo e pôs fim aquele sofrimento. A minha pele quase queimou com o poder das chamas, os gritos eram horrendos, e o cheiro de carne queimada me fez ter náuseas e vomitar.
Enquanto isso, Mona ficou admirando-o como se fosse um quadro na parede até as chamas terem fim, e até Césare e a cruz virassem pó. Césare estava liberto, mas não sei até que ponto ele livrou-se da dor.

O próximo seria eu.


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Engenheiro Imortal

Os ídolos não podem morrer...

Há coisas que nunca deveriam morrer. Uma flor bonita, uma música boa, um sorriso tímido e sincero. O brilho no olhar, o sol que nos aquece, a chama da vela, o vento da vela. Um rio nunca deveria secar. Era para ter proibição Divina para que os pais não morressem, nem os avós. Os amigos nunca deveriam morrer. O Ayrton Senna não poderia ter ido embora, e os Mamonas Assassinas foi muita sacanagem.

Esses dias, fiquei um "baita" tempo assistindo videos no YouTube do Humberto Gessinger, vocalista dos Engenheiros do Hawaii. Eram videos dele tocando e cantando pelo "TwitCan". Demais. Torci para que os videos nunca acabassem. A sensação que ficou foi de um show particular. Eu estava assistindo reprises de um "poketshow" que ele fez ao vivo para milhares de pessoas, mas a sensação é que naquele instante parecia um show só para mim. E uma sensação, além disso, inexplicável. Parecia que eu estava conversando com um amigo no MSN com a webcan ligada, a qualquer momento ele ia me dizer: "_Eaí Cássio, e o jogo ontem?"

Chegou um ponto, inconscientemente, que eu bebia um gole de café somente ao mesmo tempo em que o Humberto levantava e bebia sua caneca de chá. Estranho... Ainda mais estranho quando se trata de uma pessoa que nem te conhece. Eu o conheço. Um dia num show ele até acenou pra mim.

Não, eu não o conheço. Dos muitos shows que eu fui, de todas as músicas cantadas como um hino, de todas as vezes que eu fiquei até o fim, enquanto desmontavam tudo, esperando até o último minuto, só pra ver ele passar ligeiro e entrar dentro de uma Van. Não, não posso dizer que o conheço. O conhecemos assim, tão perto e tão distante. Essa é a sensação fã-ídolo. Essa era a sensação que eu queria explicar. Ali naquela TwitCan, tão perto e tão distante, objeto e observador. É você no Museu Du Louvre e a MonaLisa  lá bem distante, conhece mas não conhece.

O ídolo a gente conhece dentro de cada um.

Há coisas que nunca deveriam morrer. Uma árvore, uma estrela, um dia bom, um amor verdadeiro, tudo seguindo o seu caminho infinito, tudo seguindo numa  Highway Infinita.

Não há dúvidas que o Humberto Gessinger é ídolo de muita gente. Infinitos fãs, fãs de todas as idades, de todas as cores, fãs que nunca param de crescer. Ninguém=Ninguém, mas nesse caso, todos continuarão vestidos de Engenheiros e movidos a engrenagens.

O Gessinger é uma dessas "coisas" que nunca deveriam morrer. Coisa no melhor sentido que palavra pode ter. Um ídolo...
Infelizmente, como todos, um dia irá partir.

Mas tenho certeza, que quando as suas engrenagens pararem de girar, ele seguirá sendo sempre um ídolo, desses que nunca morrem, desses que são eternos. E mesmo eu sendo colorado, não tenho dúvidas da grandeza do seu querido Grêmio, e sei que em meio a um minuto de silêncio merecidamente respeitado, numa Nova Arena já velha, surgirá uma faixa erguida em meio à torcida, e gigantemente escrito: "Gessinger, Engenheiro Imortal!"

Os ídolos não podem morrer...


terça-feira, 4 de setembro de 2012

O QUE NOS TORNA HUMANOS

O que fez com que nossa raça deixasse de ser pré-histórica e se tornasse humana? Será que apenas uma mudança de era? Ou por o advento das idéias, do ser pensante que começou a mudar o mundo, a dominar o fogo, que inventou a roda e se esqueceu de se reinventar...

O que nos torna humanos?

Em tempos onde "pais jogam filhos pelas janelas, filhos no lixo, onde um pai mantém a própria filha em cativeiro por anos estuprando-a, onde uma sessão de cinema vira massacre, onde goleiros transformam mulheres em ração pra cachorro e onde esposas esquartejam maridos e colocam em malas". Até que ponto um ser-humano pode chegar, qual o seu limite, qual o momento que deixamos de "ser humanos" e nos tornamos animais. Não, os animais não merecem essa alcunha pejorativa, tal termo pejorativo era para ser o "humano". "_ Você é um humano!"

Nós estamos em retrocesso... Nós estamos conseguindo inverter os papéis, incrivelmente esse ser "pensante" que pode mudar e dominar o mundo parece estar retrocedendo, estamos novamente virando pré-históricos, homens e mulheres das cavernas. Daqui a pouco vamos perder o poder da fala, começaremos a ficar peludos e caminhar curvados.

Está faltando humanidade em nós.

Nem vou entrar no mérito de guerras e atentados, pois seria diálogos infinitos, só o exemplo de "homens-bombas" explodindo por aí já explicita o tamanho da "desumanidade". Parece definitivamente impossível viver em paz total, há sempre uma nação desumana querendo desumanizar outra. É o incrível processo de conquista a qualquer preço.

Está faltando compaixão. Já não se sabe mais o que nos torna humanos, a essência da palavra já se perdeu por completo e o que podemos fazer é seguirmos o caminho com a sorte de não cruzarmos por aí com uma dessas cabeças insanas que desfazem com a ordem cronológica da vida.

Se Deus nos criou, esqueceu-se de nos domesticar.

Só está faltando novamente conquistarmos as mulheres com um tacape na cabeça, dinossauros ainda não têm, mas corações de pedra já há.



sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O MUNDO NO CHÃO


          Nos últimos dias caminhando para o trabalho (a rua é uma sala de aula para reflexões) tenho percebido e cruzado por muitos moradores de rua. São, especificamente, os mesmos todos os dias nos mesmos locais. Na manhã quando estou indo para o trabalho, eles encontram-se dormindo, deitados no chão frio e úmido da calçada, quando volto à tarde, já estão de pé mendigando qualquer coisa, desde 10 centavos a uma migalha de pão. Essa é a rotina, todos os dias a mesma coisa, pelo menos nesses dias que cruzei por tal rua e que me chamou a atenção.


Dessa vez não me passou em vão...

Aquelas cenas me bateram de tal maneira que tive que escrever, alguém talvez pense a mesma coisa, não sei, mas não deixei passar dessa vez. O que eu pensei, é algo até clichê, não é o caso do “ser humano piedoso tendo pena dos coitados”, não foi isso, mas sim o fato de pensar que a rotina daquelas pessoas é simplesmente deitar num chão frio, levantar, mendigar e voltar para o seu mundo, aquele mundo no chão.

O que me causou desconforto é pensar que uma das coisas boas da vida, é deitar numa boa cama, botar a cabeça num travesseiro macio e dormir tranqüilo, só com a preocupação de ter que acordar no outro dia. E fiquei pensando como somos insatisfeitos por natureza. Para muitos, nada está bom, tudo é uma competição, tudo é uma rotina de querer ter, e ser maior que o outro. Voltamos a ser pré-históricos quando deixamos o lado competitivo de querer tudo a qualquer preço sobrepor o simples desejo de querer viver feliz.

Temos tudo, e não temos nada...

O que eles têm??? Talvez o latifúndio das calçadas e o trabalho no ramo econômico ao contar moedinhas, talvez à apreciação gentílica de nos chamarem de Doutor ou a aptidão gastronômica de comer comida do lixo.

Não é discurso hipócrita nem sentimentalismo Franciscano, é simplesmente a realidade nua e crua. O que eu quero dizer é que eles só têm aquilo, o mundo deles é aquilo e mais nada. E o que nós temos??? A gente reclama de barriga cheia essa é a verdade. Não que tenhamos uma vida maravilhosa e que de nada mais precisamos, não é isso, a gente sempre quer crescer e viver melhor, viver confortavelmente... Mas a diferença é que o nosso mundo não é no chão, não sonhamos e planejamos a continuidade das nossas vidas deitado num papelão com um teto de estrelas. Será que eles ainda sonham com alguma coisa???

Às vezes achamos que temos de menos, mas nós temos tudo. Nós temos tudo, só não temos o que queremos. Mas mesmo assim nós ainda temos escolhas.

O ir ao trabalho, o ir a Universidade, um dinheiro esbanjado, uma compra na loja, um carinho dos Pais, um afago do nosso amor. Nossa vida muitas vezes não é fácil, muitas coisas acontecem durante ela que nos deixam sem um Norte, às vezes arrasados. Mas nossa vida é um mar de rosas perto das vidas que seguem no cimento da rua.
Por isso nós temos que ser gratos por estarmos onde estamos, e não desperdiçar a vida com coisas pequenas, com coisas que simplesmente podem ser superadas facilmente e não transformadas num acaso sem lógica. Faltam sorrisos na cara das pessoas, há muitas pessoas amargas, que parecem que engolem a vida com um gosto mais amargo ainda. A vida é bela, e ela não pode ser desperdiçada.  Nós ainda temos escolhas...

Para aquelas pessoas, a vida é mais dura, eu não sei o que aconteceu para eles estarem ali, para chegarem naquele ponto, nem sei se elas são vitimas ou fizeram por merecer, não sei. Mas quando passarem por elas lembrem-se que a sua vida vale a pena ser vivida de um jeito melhor, e que se importar com os outros é só um dos pequenos jeitos de engrandecer o seu fim.

Há uma frase no final do filme “O auto da Compadecida” que diz: “... Deus às vezes se veste de mendigo para testar a bondade dos homens...”. Eu não sei se Deus existe, mas se existe realmente, eu não sei o que eles fizeram para ter o seu mundo no chão.

                Nós temos tudo.



domingo, 26 de agosto de 2012

A nossa estrada


 
     Por que nos perdemos no meio do caminho?
     A estrada, ora sinalizada, quando as luzes se apagam, é aí que os nossos olhos deveriam brilhar. Mas não, ao invés disso fechamos os olhos por medo da escuridão, e nos perdemos. E se cada um for para o lado contrário da estrada, cada vez mais nos distanciamos.
     Nos perdemos pois não seguimos de mãos dadas. E quando nos soltamos já é tarde para novamente entrelaçarmos os dedos. Entrelaçados somente os nossos pensamentos, que se enroscam sem saber desatar os nós. E puxamos cada um de um lado, apertando cada vez mais, estrangulando o coração.
     A nossa estrada nos impõem encruzilhadas, e quem escolhe o caminho certo a seguir somos nós mesmos, ora guiados pelo coração, ora desviado pela intuição. E o caminho escolhido, se for de coração, sempre será o certo se por descuido não nos perdermos no meio dele.
     Pedras haverão, buracos também, e o que devemos fazer?
     Desistir?
     Não...
     Seguir, apenas seguir.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Sobre o ensino, sobre a educação

MORDAÇA INVISÍVEL

Eu lembro bem de uma professora nos tempos da escola, a mais radical de todas, no qual não podíamos abrir a boca para nada, passávamos a aula toda como estátuas, um olhar desconfiado para o lado era sinônimo de advertência, um pensar mais alto era motivo de exclusão da sala de aula, ir ao banheiro? Nunca! Não podíamos pedir, nossas bexigas quase explodiam, quando não urinávamos nas próprias calças. Lembro que ao apontar o lápis, não podíamos ir jogar a sujeira no cesto de lixo no canto da sala, tínhamos que envolver tudo numa folha de papel e somente após a aula, em uma fila indiana, jogar no lixo o que tinha que ser jogado.

Nunca demos um piu por medo. Repito, medo! Medo de sermos duramente castigados pela "bruxa", que naquele momento, não mais era a "tia".
Lembro de várias professoras boas, no sentido literal da palavra. Bons professores que sabiam lidar com os alunos. Não pensem que eram professores desleixados, não, eles realmente eram bons professores. Reprimiam, mas sem serem repressores. Professores que mantinham nosso interior inquieto, mesmo sendo crianças para entender certas coisas, mantinham a nossa chama acesa em busca de respostas.

Mas infelizmente, a grande maioria eram ditadores transvestidos de educadores, nos ditavam as regras sem poderem ser questionados, da pré-escola ao término do ensino fundamental, nos conduziam de maneira a nos "podar", de cortar pela raiz a nossa transbordante rebeldia. Rebeldia essa justificada, graças à proliferação natural de hormônios saltando da pele devido ao crescimento, ao natural descobrimento, ao "querer saber de tudo" que é invocado de cada cabeça pensante ao passo que vamos crescendo.

Fomos moldados. Todos na mesma fábrica do saber, ou melhor, na mesma fábrica de aceitar as coisas.

E o que tínhamos que fazer? Aceitar.
Aceitar o que nos era imposto, e assim "aprender" sem espaço para dúvidas, sem espaço para questionamentos. Deus me livre descrer que os Portugueses chegaram ao Brasil aos beijos com os índios, ou questionar a importância nas nossas vidas da fórmula de Bhaskara.
"_Fique quieto menino! Deixa de bobagens..."
Sim, sempre bobagens, é claro.

E como cobrar tanto dos professores, se eles foram moldados numa escola mais autoritária ainda?

Lembro que nos faziam rezar Ave Maria e Pai Nosso antes das aulas. Como isso? Agora vejo, olhando para trás, que até a religião nos impuseram. E aí de nós se não quiséssemos rezar, ou deixar escapar um sorriso ao inverter uma frase, como fazíamos ao cantar, obrigados, o Hino Nacional.
Fomos moldados assim. É fato histórico que as escolas sempre impuseram o seu método de ensinar, reprimindo ao máximo qualquer coisa que fugisse aos ultrapassados livros didáticos.

Saímos da escola com uma mordaça invisível.

Hoje dentro da Universidade, que eu realmente vejo os reflexos do passado escolar, tanto nos professores, como nos alunos. Muitos deles conservaram e conservam o modelo da fábrica de onde fomos moldados.
Muitos dos Mestres e Doutores professores, ainda mantém o estereótipo da época escolar, vamos dizer assim, um perfil antiquado aos dias atuais, não evoluíram com o Mundo. Abdicam ao debater com os alunos, a ouvir as suas opiniões, contra ou a favor, nas discussões de dentro da sala de aula. Mantém ainda o pulso de ferro sem abrir espaço para grandes diálogos com os estudantes, agora não mais crianças, com os hormônios no pico máximo e o sangue fervilhando nas veias por respostas, por questionamentos, e acima de tudo, por uma mudança no cenário atual.

E por que, os inteligentes professores, e não duvido mesmo das suas qualidades e capacidade, ainda mantém esse perfil tão fechado?
Pelo mesmo motivo dos professores escolares. Eles eram alunos, também foram moldados assim. E mais uma vez o medo...
O medo de perder o controle da sala de aula. Enquanto os professores mantém os alunos nas mãos, eles são o poder divino, os ditadores das salas, sem espaço para protestos do povo. O medo então trocou de lugar. Do aluno, para o professor. O medo de perder o controle, o poder. O mesmo medo dos professores escolares.
Esse é um dos problemas em questão. Os professores, não todos, não conseguem se sentir seguros se não possuem o controle total dos seus alunos. E por isso, não conseguem "ter autoridade, sem serem autoritários". Eles precisam que todos os alunos os temem.

Um dos maiores problemas entre aluno e professor - professor e aluno, é o falta de diálogo. Sempre foi, principalmente na escola quando há, como dito antes, uma "poda" nos galhos que querem crescer demais. E o problema é transportado para as Universidades. Quando um aluno bate de frente com um professor (idéias e opiniões diferentes), há quase um colapso. Pois muitos não estão preparados para tais enfrentamentos. Resquícios estes vindos do seu próprio ensinamento, afinal, tempos atrás, era ele o amordaçado. Mas o pior ainda, é a mordaça que vem herdada do aluno...

A mordaça invisível que ainda se encontra em muitos alunos universitários, é um problema herdado ainda na escola. Moldados ao silêncio, quando o aluno se depara frente aos colegas e professores na Universidade, muitos não conseguem se comunicar, não conseguem expor suas opiniões, ou às vezes, nem apresentar um simples trabalho perante a sala de aula. Tremem de nervosos, gaguejam e não encontram palavras ao tentar expor suas idéias para os próprios colegas. Dirão: "_Isso depende da personalidade de cada um..." Também, é claro, mas muito devido à formação primitiva nos confins da infância e adolescência escolar.

A mordaça invisível ainda existe. O que vejo, são muitos alunos com idéias e opiniões definidas, debatidas em rodas de amigos, mas não expostas nas salas de aula, por medo de errarem, de falarem "bobagem", ou de discordar da opinião dos professores. E quando digo medo, não é o medo marginal, de apanhar, mas o medo intelectual, de bater de frente com o intelecto e vaidade dos professores. Medo de chocar a sua opinião com as do professor, e depois do calor da "discussão" (discussão essa necessária para o aprendizado), sentir-se prejudicado e pensar: "_Ah, agora esse professor vai querer me "ralar", me "rodar". Ou pior, quando deixam de lado as suas próprias convicções, para apenas concordar e aceitar o que o professor expõe, por pura acomodação.

Existe! É fato, eu vejo e sinto no cotidiano das salas de aula. Por isso, muitos preferem se abster, e guardar consigo suas opiniões e dúvidas, por não querer enfrentar, no melhor sentido da palavra, os professores com seus questionamentos.
É a mordaça invisível ainda presente.
Aos desamordaçados, que conseguiram se desenvencilhar do silêncio, e naturalmente, como tem que ser, expõem suas idéias perante todos, e questionam os professores sobre os assuntos que lhe cabem desconfianças e dúvidas, e que não se calam no obscuro do seu ser, são muitas vezes estereotipados de radicais, polêmicos, e o pior de tudo, denominados importunos. Por serem assim, por serem bem resolvidos, por terem suas convicções, muitas vezes erradas, com certeza, mas acima de tudo, por pensarem por si só e extravasarem de dentro de si, as interrogações, as incompletas lacunas que formam o seu interior.

Não duvido das boas intenções dos professores, essa classe tão desvalorizada pelos governantes, que nos formam e que simplesmente fazem parte das nossas vidas. Não duvido, sei da sua plenitude. Classe essa, que quero fazer parte um dia, na mais pura das sinceridades, quero ser um dia, um educador. Por isso todo esse incomodo e inquietação.

Agora, enfim, todos perguntarão: "_Quero ver então quando for você o professor, e encontrar todos a sua frente com olhos tão famintos do que a própria fome..."

Não questiono e não duvido de todos os problemas que existem na educação. Mas é através da educação que podemos mudar alguma coisa. História é passado, e não podemos mudá-la. O futuro sim, mudamos a partir do presente, para que mais em frente, o passado esteja mudado para melhor. É no agora que podemos começar a mudar, no ensinar e no aprender, ouvindo os professores, mas contestando-os sempre quando julgarmos necessário, por mais absurdo que seja o questionamento. Às vezes a absurda pergunta, é a absurda dúvida de alguém que está ao lado, que amordaçado, ficou impossibilitado de falar.

Eu quero fazer parte dessa mudança.
Arranque as suas mordaças, e use o dom da palavra.
É através do diálogo e a luz das idéias, que se quebra o pecado silêncio e se ilumina os confins da escuridão.

Cássio Almeida


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Apenas o início

E novamente o inimaginável destino do tempo
nos dá ares novos como uma brisa leve ao fim de tarde.
E sem perceber já estamos envolvidos,
tão misturados quanto céu e mar,
terra e planta.

Talvez o meu reflexo nos seus olhos
realmente seja o espelho da alma,
e o brilho da lua que invade a janela
reflita de longe o que nós já sentimos.

Talvez eu me perca no seu tímido sorriso
e nem perceba que o mundo continua a girar.
E qualquer minuto e segundo longe do seu toque
pareça realmente uma vida inteira sem você por perto.

E de repente nos damos conta
que tudo aconteceu como tinha que acontecer
e nos deparamos com um horizonte longínquo
repleto de carinho e felicidade.

E talvez tudo nesse mundo maluco, seja o mais fantasioso conto de fadas,
cheio de anjos e dragões,
talvez...
Mas quem sabe tudo seja apenas o início, apenas o início,
de tudo que dizem que é o amor.

(Cássio Almeida)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A falta que minha mãe me faz


Em Julho de 2010, a pouco dias de completar 55 anos, minha querida e amada mãe embarcou para o céu. Mas não pensem que está carta a céu aberto está sendo escrita encharcada de dor e sofrimento, não, mas sim, somente saudade. Graças a Deus, e mais rápido que eu esperava, com a ajuda de pessoas amadas e amigos extraordinários, tudo que era dor (a pior do mundo), tudo já foi superado. Sofri o que tinha que sofrer, chorei o que tinha que chorar, e do fundo de uma força que nem mesmo eu sabia que tinha, consegui me erguer e seguir vivendo sem uma grande parte do meu coração.

Muitas das pessoas que me conhecem se impressionam do modo como eu superei essa perda inestimável. Se impressionam como eu consigo viver normalmente depois da sua morte (essa palavra feia e pesada) sem que eu sinta as dores da sua ausência. É o que eu digo, está tudo superado, não sinto tristeza, somente saudade.

Aí sim, só eu sei o que é sentir essa coisa que não se pode explicar. A saudade que eu sinto dessa mãe inexplicável, linda, guerreira, que abdicou de tantas coisas da sua própria vida só para me tornar o filho mais feliz do mundo. Só quem a conheceu pode ao menos um pouco entender o que eu falo, e o que foi a minha mãe. Aos outros cabe imaginar nas minhas palavras, o quão era fantástica aquela mulher.

Obviamente, eu tinha a melhor mãe do mundo (que nem todo mundo), e tinha nela a minha heroína, o meu alicerce e o meu chão. Apesar de viver por alguns anos a quilômetros dela, eu era feliz só de saber que ela estava ali, só esperando me reencontrar.

Que saudade mãe...

Que saudade quando chegava em casa depois de meses sem nos vermos, que saudade daquele brilho no olhar, daquele abraço apertado e daquele beijo mais carinhoso do mundo. Que saudade daquele colo de mãe. Que saudade de ficar conversando com ela por horas, horas e horas sem nunca querer parar. Alguns me perguntam de onde vem toda a minha alegria, empolgação e entonação ao falar. Podem ter certeza, a minha mãe que me fez no volume máximo.

E as histórias que me contava, e as piadas que me matavam de tanto rir, atrapalhada que nem eu. Que saudade dos almoços e jantas preparadas por ela com todo o amor que uma mãe é capaz de transbordar, e encantada ficava me observando apreciar as minhas comidas preferidas. Que orgulho ela sentia, e que orgulho de ter tido aquela mãe.

Que saudade de ver o seu rosto, o seu sorriso, que saudade de vê-la se despedir de mim, quando novamente eu partia. Que saudade de seu aceno e que saudade do seu tchau.

Que saudade quando ela me ligava dizendo que estava morrendo de saudade, que saudade de ouvir o seu "oi Cassinho" (como ela me chamava). Que saudade de ouvi-la dizer: "Te amo filho".

"...as vezes a saudade me bate,
como as ondas batem nas pedras..."

Eu queria que tivesse ao menos um DDD para ligar direto para o céu, e de vez em quando ouvir a sua voz. Como eu queria que tivesse uma passagem Divina, só para de vez em quando poder ir visita-la.

E de repente, vem as pessoas se admirarem com toda a felicidade que carrego em mim, e com todo o meu jeito de viver a vida, a minha alegria de viver cada dia. Que orgulho de dizer que foi a minha mãe que me fez assim, eu disse, ela me fez assim: Volume máximo, felicidade máxima.

Minha mãe me tornou o que eu sou. Devo tudo a ela, e a única tristeza que me bate, é não poder recompensá-la ainda em terra, em vida. Pois eu digo com todas as letras, grito ao mundo inteiro ouvir, se sou feliz hoje, se tenho todas essas pessoas maravilhosas ao meu lado, que me conhecem, que me querem bem, que me "aturam" (volume máximo, felicidade máxima), tudo isso foi conquistado, tudo isso foi possível, graças ao esforço, a luta e o amor dessa mulher inexplicável.

E eu tenho certeza, que aquele brilho no olhar cada vez que nos encontráva-mos, era o amor e a alegria de sermos uma só pessoa.

Que esteja em paz e feliz... E até o reencontro!
Saudade mãe, eterno amor.

(Cássio Almeida)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Tudo é uma questão de humor



É impressionante como gestos simples
se bem direcionados,
podem se transformar em grandes sensações.
Tudo é uma questão de humor...
Por que ficar triste?
Se podemos simplesmente escolher sermos felizes.

(Cássio Almeida

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Não sei quase nada do que acho que sei


Não sei...
Não sei quase nada do que acho que sei
meros devaneios perdidos
pois se achados, quão irão se perder.

Não sei quase nada do que acho que sei
quando suspiro forte
vento inquieto que passou calado.

Outrora me veio um olhar brilhante
que mais parecia um vagalume perdido
era a lâmpada de cima da cabeça
que não havia acendido com a luz das idéias.

Não sei quase nada do que acho que sei que existe no Mundo,
quase nada.
Mas ainda sei que existem coisas incomparáveis
coisas que nem todo mundo conseguem sentir.

Da vida, ainda salvam-se os que entendem o algo a mais,
os que lêem as entrelinhas,
os que ainda avistam um horizonte melhor mesmo no escuro.

Não sei quase nada do que acho que sei,
principalmente do coração.
Mas enquanto seguem brigando os sentimentos, salva-se de longe ainda o amor.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O agreste dos olhos


Os olhos secaram.
Todas as lágrimas de repente viraram pó,
gota por gota,
esvaíram-se como um fio d'água no solo seco.
O que era mar virou sertão.
Onde terá ido o rio que enchia o meu coração?
Foi desviado pra longe, bem longe, tão longe.
O brilho agora opaco dos olhos
pede e reza que volte logo o brilho claro e sereno
banhado pelas lágrimas.
Mas os olhos secaram.
O sol gastou todo o seu brilho pra rachar o solo onde piso.

O agreste dos olhos arde e queima fogo e chama...

Mas há de chorar,
como chuva em meio ao deserto,
pra de novo florir os campos
encher o mar e o coração
o rio encontrar o caminho,
e os olhos de novo brilharem
como um lindo dia de verão.

(Cássio Almeida)

sábado, 17 de julho de 2010

Último ato

E de repente foi-se a vida
como um suspiro ao vento
como uma lágrima na chuva.
O sol é visto a olho nú, já não brilha tanto.
O coração bate, mas sem uma grande parte.

Enquanto isso um tapete vermelho é estendido lentamente
por um caminho cheio de flores onde um anjo vai passar.
Uma multidão, todos de pé, aplaudem sem ter hora pra cessar,
Os sinos e os clarins já anunciam,
os olhos brilham, os sorrisos largos,
não há lá, quem não saúda sua chegada.
Aqui, só nos resta saudade...

Fecharam-se as cortinas da Terra,
abriram-se as cortinas do céu.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Ainda o amor


Há quem diga que seja invenção, que não exista e seja tudo um conto de fadas, há quem desconfie e no fundo diga que já sentiu. Há quem ache que é tudo uma brincadeira de crianças, mas há quem ache que é tudo coisa séria. Há quem diga que é somente paixão, vem e vai embora. E há quem diga do outro lado que seja eterno, tão inseguro quanto a vida.
Há quem chore,
há quem ria,
há quem sonhe,
há quem jure,
há quem apenas acredite em um sentimento maior, indiferente do seu nome. Acredite que é algo que o diferencia dos demais, que seja o caminho certo, o caminho que levará ao encontro da felicidade.
O amor.
Ainda é o amor o epicentro do nosso coração, que causa tantos tremores em nossas vidas quanto a um abalo sísmico real. É ele ainda que nos faz suspirar por um simples piscar de olhos, ou mesmo sem nos conhecer, cruzar em nossa frente tão lenta como um dia de verão. Ainda é o amor que nos cutuca na hora certa, e vem como as ondas nos acertar em cheio como acertam as pedras a beira mar. Ainda é esse sentimento que nos mostra que existe algo acima de tudo, tão acima quanto as nuvens, tão profundo quanto os mares, tão forte quanto os ventos, tão belo quanto um pôr-do-sol.
Ainda o amor, tão simples e tão sincero, que ainda nos fazem crer naquele sorriso tímido, e naquele abraço apertado, e naquele olhar brilhante, que faz ter sentido o que nós sentimos, e que nos mostram que o amor sempre valerá a pena, se um dia por descuido alguém conseguiu despertá-lo.

(Cássio Almeida)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Quando o tudo é nada



Diante de mim, a vida.
E eu à tenho, e eu à vivo,
com toda força, sem pressa,
pois o tempo e todo seu tempo,
eu tenho.
E eu tenho o sorriso estampado na cara
mas também tenho as lágrimas
que sempre caem na hora certa.
Eu tenho lembranças infinitas
guardo tudo, e vou lembrando ao passo do passar
e choro a lágrima que guardei pra ti.
Eu tenho o coração gigante
que cabem todos, e mais, e mais,
e vão chegando, e não param de chegar
e vão pulsando o sangue que me faz viver
e nem percebem, que o combustivel da vida
é cada uma das pessoas que eu guardo.
Eu tenho olhos que avistam tudo
o que me rodeia, e o que nem aparece à vista
avisto o horizonte subentendido,
e as entrelinhas do olhar até o toque.
Mas finjo que não vi, o que ás vezes nos cega.
Eu tenho energia de sobra para brincar com a vida
andar por aí sem rumo,
tomar um banho de chuva,
rir até que doa a barriga,
jogar uma conversa fora,
refletir em frente ao mar,
ficar em volta da fogueira,
a lua, o violão e nós...
A energia que me falta
é apenas a preguiça de ter que acordar no inverno,
é o pecado que mais cometo.
Eu tenho a melhor mãe do mundo (que nem todo mundo),
e irmãos que são parte de mim.
Eu tenho uma vontade de conhecer a Nova Zelândia,
e o resto do mundo também.
E vontade não me falta
de conhecer o mundo do ser.
Se eu pudesse imaginar o que as pessoas sentem
talvez eu não tivesse vontade de descobrir,
mas eu tenho.

Eu tenho tudo,
mas não tenho o que eu quero.
O porque eu não sei,
sempre acho que faço tudo certo.

Talvez eu tenha que fingir
e deixar tudo ao senhor do tempo
e ter que ver mais uma vez
o fim da tarde chegar.
Pois eu tenho todo o amor do mundo
mas não sei se me têm.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Escova de dente e um quilo de sal




Será mesmo que conheço as pessoas?
Ingenuidade minha, pode ser. E a cada segundo um segundo a menos, e a cada segundo é um piscar de olhos, e passos se cruzam, e cruzam seus mundos e tropeçam seus pés, e você se segura com um abraço, e eu seguro um sorriso. Será que foi o meu amor que tropeçou e eu a segurei? As pessoas tropeçam, e os amores passam, e até nos acenam, e até disfarçam, e até não se conhecem, e até brincam, e até brigam e até se admiram. E a projeção fica por nossa conta, e nossa imaginação voa longe, pensando em cada tropeço, instante e movimento.
Será mesmo que conheço a quem julgo um sentimento?
Conheço a mim, pois aos outros sobra aquela eterna dúvida do que está pensando agora... Cada um leva a sua projeção no bolso, e desvendar esse bolso sem fundo, é o que nos atormenta quando se está sozinho. O que será que pensa tal criatura quando está sozinha? Pois verdadeiro pensamento e afeto, é o que nos chega quando estamos sem querer paralisados olhando fixadamente para nada, mas que no final é tudo. E a roda da vida continua girando.
Será mesmo que conheço o que eu sinto?
Ora, se não sou eu quem faz minha própria projeção, e tudo que imagino talvez no final faça algum sentindo. Como quando passa a tempestade e vem a calmaria, a gente fica pensando quando o nosso temporal de sentimentos vai passar. E a gente lembra que a maré vem todos os dias e trás tudo de volta, e nós ficamos assim, olhando pro horizonte esperando um ao outro. E o barco continua navegando, sem porto, sem cais.
Será mesmo que conheço a minha projeção?
E se não é perfeito o filme que eu próprio dirijo, como entender as cenas do próximo capítulo? Esse é o mistério. A novela da vida de cada um só se descobre depois do fim, pois até lá, é apenas capítulos, um atrás do outro, dia após dia, cena por cena, e todo mundo sabe que o verdadeiro final é nós que fizemos. E realmente, a gente só se conhece depois de um quilo de sal.
No mais, são só pitadas que temperam o que a gente projeta, que fazem da nossa história um obra-prima, digna de Oscar, que nos fazem chorar, sorrir, imaginar, sonhar, que nos fazem ser em sonho, o que no fim imaginamos ser.
E a projeção acaba, quando sem querer e sem perceber, sua escova de dente estiver perto da minha, e perceberemos que tudo na nossa vida é um filme, sem roteiro, mas com final feliz.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O melhor jeito de morrer

Há quem diga que o melhor jeito de morrer, é morrer dormindo...
Dormindo? Assim, sem prévio aviso. Não, dormindo não. Eu não gostaria de morrer dormindo. Imaginem ir tirar um cochilo e nunca mais acordar, nem pensar.
Eu quero morrer lúcido (em uma teoria minha, não morrerei, mal sabem que tudo isso vai muito mais além do que apenas fechar os olhos para sempre), que seja morrer do coração, mas lúcido. Eu quero morrer vibrando num gol do meu time, morrer correndo na chuva enlouquecido, morrer olhando o mar ou depois de um pôr-do-sol. Eu quero morrer bebendo com os meus amigos e mostrar pra todo mundo que morri feliz. Eu quero morrer depois de um abraço e um beijo apaixonado e morrer amando.
Óbvio que não quero morrer agora, é muito cedo, só depois que o sol se apagar e a última folha cair, eu só não quero morrer dormindo, sem poder me despedir com um sorriso estampado na cara.
De todas as maneiras, o melhor jeito de morrer sempre vai ser morrer vivendo.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O maior medo

Não tenho medo de amar, de morrer, muito menos de viver. Não tenho medo de chorar, de sofrer, nem de rir em público. Não tenho medo de Sexta-Feira 13, de trovão, nem de bicho-papão. Não tenho medo de avião, de Bungee Jumping, e nem do escuro (mas prefiro não ficar sozinho). Não tenho medo de tudo isso, mas tem uma coisa que eu tenho muito medo, o medo da saudade, da saudade que vou sentir das pessoas.
Eu tenho medo da saudade que vou sentir quando meus pais partirem, como viver sem colo de mãe, e abraço de pai. Como suportar a saudade de quem me tornou o que eu sou hoje, como seguir em frente sem a maior parte do meu coração.
Tenho medo da saudade que vou sentir se de repente meus amigos se desencontrarem pelo mundo, como suportar a saudade dos "amigos irmãos" que sempre estiveram juntos, saudade da galera que simplesmente me fazem feliz. Tenho medo que as nossas amizades sejam apenas unidas por e-mails e vozez trêmulas por telefone.
Tenho medo da saudade até das pessoas que mal me conhecem ou conheceram. Medo da saudade da "tia" que muito me vendeu e vende lanche nas madrugadas, da menina que já me alugou vários DVDs, saudades das pessoas que sempre estão no mesmo lugar, mal sabem que fazem parte do contexto dos meus dias. Medo da saudade das calçadas que cruzam os meus pés agora.
O meu maior medo é saudade...
Medo da saudade de tudo que é a minha vida agora.

(Cássio Almeida)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O amor é uma ironia

Eu gosto de você, e você não gosta de mim. Ela gosta de mim, mas eu não gosto dela. Parece que ela foi desenhada pra mim, e eu não esculpido pra você...
Ah se fosse simples! Mas o amor é uma ironia. O amor debocha e faz chacota do nosso coração a quem não entende as ironias do amor. Brinca e faz sofrer os corações mais desatentos e ingênuos, por não entender as desventuras do amor, por não perceber que o gosto e desgosto caminham juntos no longo e esburacado caminho.
Como entender certas coisas que vão além de um simples olhar de canto e um sorriso meio encabulado, à suspiros que se confundem com a brisa leve de um fim de tarde. O amor não se explica, o amor acontece. E quando acontecer, por si só já estará explicado, e você entenderá que tudo o que aconteceu é prefácio, era o índice para o que viria e se tornaria.
Mas não esqueça, o amor é uma ironia. Na física, lados opostos se atraem, mas no amor as coisas não funcionam bem assim, não importa o quão diferentes ou iguais sejam os lados, a atração vai muito além do que meros lados. Vai além das forças da natureza. O amor realmente prova a sua força, quebra leis da física, atravessa fronteiras entre o ódio e a dor, e amolece o mais duro dos corações.
No fundo, é só usar o próprio veneno como antídoto. O que nós precisamos na verdade é ironizar o amor, jogar o seu jogo, acreditar que sua ironia e suas armadilhas são somente partes do que é a brincadeira, que fazem parte do ritual, do verdadeiro caminho, que tudo é prefácio.
Só assim eu vou gostar de você, e você vai gostar de mim, ela vai gostar de mim e eu vou gostar de você. O desenho perfeito, esculpido na melhor das madeiras...
Que ironia, o amor se rendeu!

(Cássio Almeida)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Ausência


A onda nos passou rente
e quando percebemos
era o amor que tinha passado.

Mas o arrepio que nos vem de repente
é a lembrança que sobrou de nós.
E a maré de volta vem trazendo
o profundo amor que se perdeu no mar.

(Cássio Almeida)

sábado, 24 de outubro de 2009

Tudo que tiver que acontecer


Tudo que tiver que acontecer nessa vida
que aconteça,
e o rio que corre para o mar
vai levando junto a vida e o tempo.
O tempo é correnteza forte,
vai levando tudo
e volta e meia eu vou pro mar
sentir a vida e o tempo, chegar e passar.
Tudo que tiver que acontecer
que aconteça,
pois o rio vai levando,
mas a maré traz tudo de volta.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Se de repente a escuridão chegar

Assisti esses dias o filme "Ensaio Sobre a Cegueira", filme baseado no livro do escritor José Saramago. E que película! História que te prende ao filme do início ao fim, dramático, perturbante, que me deixou por muitas vezes chocado, e o melhor de tudo, o filme te faz pensar muito sobre a vida, faz você imaginar-se naquela situação, faz você refletir.
Várias vezes durante o filme fechei os olhos tentando imaginar se de repente eu perdesse a visão, como seria viver sem as imagens, sem um dos mais fundamentais sentidos, viver às escuras, vivendo somente das lembranças.
Como viveria sem poder ver o mar, as montanhas, um barco no horizonte, a lua, as estrelas, a areia branca, a rua, os carros, alguém de bicicleta, como poderia viver sem ver o rosto dos meus amigos, sem ver o rosto da minha família, sem ver o rosto do meu amor. São tantas coisas que chega embaralhar os meus pensamentos, seria uma mudança tão chocante que não sei como reagiria. Como aprender a viver somente das lembranças, e o que eu ainda não vi, e se de repente eu esquecer tudo. Como seguir sem nunca mais poder ver a própria face.
Mas também me cabe outro pensamento. E as pessoas que já nasceram cegas? Não posso julgar se seria melhor ou pior. Porém, pensar nessa hipótese também me causa desconforto. Como seria encarar o mundo sem nada conhecer visualmente, absolutamente nada, nem mesmo as lembranças me caberiam no pensamento.
Seria como viver num conto de fadas, viver somente da imaginação, e o poder do toque das mãos. As pessoas não veriam, apenas sentiriam o que há de mais belo para os nossos olhos. As paisagens, as construções, o céu, a terra, o mar, de uma simples formiga, há uma imensa baleia, tudo por conta da imaginação.
Tudo teria outro sentido, e a frase "O amor é cego", seria na forma literal das palavras. Seria o mais puro e sincero amor do fundo da alma e do coração, o seu amor seria mais do que nunca a rainha dos seus sonhos.
Esse filme nos abre há infinitas situações, o "Ensaio Sobre a Cegueira" não passou despercebido, não foi apenas um filme, mas uma viagem filosófica, que nos faz pensar na vida, se de repente acordássemos no meio da escuridão.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Os valores de cada um


Foi-se o tempo onde o importante para as pessoas era apenas ser feliz, brincar e brindar a vida. Hoje em dia, para muitos, e isso que me deixa pasmo, não basta estar feliz consigo, é preciso ser melhor que o outro, ser mais "feliz" que o outro.
Os valores das pessoas parecem ter sumido em meio a neblina da manhã e a escuridão da noite. Os valores desvalorizaram-se, aos meus olhos atentos, o que vejo, é um mundo de futilidades, e a perda do que para mim, realmente importava, viver a vida simplesmente.
Viver a vida simplesmente, e não estou dizendo que para isso deve-se ser irresponsável e não preocupar-se com nada e apenas viver, não é isso, mas sim, viver e não preocupar-se tanto com coisas que absolutamente no fim da vida não vão servir para nada. O que vai ficar realmente na Terra é o que você fez de melhor para os outros, e não consigo mesmo, o que vai ficar na verdade é o que você nem percebe, o subentendido, a mais sincera felicidade por entre as linhas.
Parece que hoje o que importa é apenas o Status, os bens materiais, o alto grau na sociedade, a "grandeza". No fundo, você não é grande pelo que tem, você é grande pelo o que é, você é grande na sinceridade dos olhos de quem vê. Não perca tempo mostrando o que você não é, use o tempo para mostrar o que você é de verdade no fundo da alma.
O que importa se ele tem o som do carro mais alto, se ela tem na festa a roupa mais bonita, o que importa se ele tem mais saldo no Banco, ou se ela tem o cabelo mais liso. O que importa se ele faz Jiu-jítsu e ela é modelo. O que importa? Isso são só referências, isso é apenas uma capa protetora, uma maquiagem, isso não diz nada o que realmente a pessoa é.
No fim não vai sobrar nada disso...
O que importa é o que ficará eternizado, você sem a armadura.
Perca tempo distribuindo sorrisos, gentileza, alegria, afeto. Abrace mais, ame mais, minta se for preciso, mas só se for pra fazer alguém feliz. Chore se precisar, não é pecado nem menos viril, peça desculpas, perdoe, diga obrigado, corra, brinque, cante, tome banho de chuva, ande descalço, não deixe apagar a criança que tem em você, não sinta vergonha de ser feliz.
Isso sim ficará.
Pode ter certeza, o meu valor é inegociável, e assim viverei para sempre.
Tire a mascara invisível, desarme-se, pois tudo isso ficará, faça isso, e você vai entender no fim o real valor da felicidade, e assim, no fim da vida por entre as lágrimas dos verdadeiros amigos, descubrir o que é ser eterno.

(Cássio Almeida)

domingo, 13 de setembro de 2009

Quando as pétalas caem


Quem dera se as razões do coração
fizessem jus as do sentimento...
Por que é que tem que ser assim?
Se as razões do amor não somem
nem mesmo depois do fim.

(Cássio Almeida)

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Saudade do tempo que passou


Ah! O tempo, sempre ele.
Passa e nem se percebe.
Passa o tempo
como passa um simples vento ao cair da tarde
como grãos de areia por entre os dedos
a cada instante e movimento
ou mesmo no mais profundo sono.
O tempo passa e vai deixando um rastro de saudades,
saudade do tempo que passou.
Saudade de uma brincadeira de criança,
das descobertas,
saudade de um amigo, de um amor,
saudade na verdade de tudo que já passou.

Saudade faz sorrir e doer o coração...

E ficamos pensando no que a gente faz com o
nosso próprio tempo.
Será que as tardes que eu perdi dormindo,
as horas que passei contemplando o mar,
as conversas jogadas fora,
um beijo um abraço que deixamos de dar,
será que tudo isso foi perda de tempo?

Se o tempo que passei sonhando,
o meu olhar no horizonte,
as minhas palavras ao vento,
e o abraço e o beijo negado,
se tudo isso é desperdiçar o tempo precioso,
então confesso que o fiz.
No mais, é o que tem que ser.

É quando de repente se faz perceber
que o tempo nada mais é
do que nosso próprio aliado.
Ou você dúvida da força mágica do tempo?

O tempo não transforma tudo,
mas só ele é capaz de transformar...

Só o tempo transforma um sonho em realidade,
só o tempo transforma um triste olhar no mais
brilhante de todos,
só o tempo transforma simples palavras na mais
bela frase de amor,
e só o tempo é capaz de transformar um coração vazio
no coração mais apaixonado.

E quando você achar que o tempo vai passar,
já passou,
e o tempo vai passando
e nos transforma ao piscar dos olhos
o que era a nossa vida agora
novamente naquela futura e mais pura saudade.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Cais do Porto


O amor içou as velas
e partiu,
como um pássaro que migra
como um dia que passa
como um vento que soprou.
E o que não parte, fica
como cicatriz marcada na pele,
um sentimento infinito
uma saudade que não passa
uma folha no chão
uma poesia no canto
um olhar no horizonte nesse mar gigante.

As ondas que batem nas pedras
vem e vão ao ritmo do coração,
e a lágrima que outrora me falta
cai serena como uma chuva de verão.

Mas logo me vem à calma
que nos mostra que a vida é feita de partidas e chegadas.
E na beira do Cais a gente sorri.

O nosso coração é um porto
cheio de idas e vindas,
de encontros e desencontros,
onde a gente sempre se despede
mas para onde o amor sempre retorna.

(Cássio Almeida)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Flor


Eu quis te desvendar
e acabei perdido em seu mundo
em meio a um mar enigmático
por entre montanhas e caminhos.

O que teu mundo me diz
talvez em sonho esclareça
o aroma que vem da flor
é o perfume da tua pele.

O caminho certo talvez seja incerto
e o que quero é apenas desvendá-la
seguir o caminho do teu corpo florido

levar-te a verdade do meu olhar e sorriso.
Pois quando perdido no seu mundo
havia sempre uma placa dizendo que siga.

(Cássio Almeida)

sábado, 11 de julho de 2009

O fuso-horário da paixão

Apaixonar-se não é fácil.
Simplesmente por que você não domina isso. Não existe lógica, a paixão é sem critérios, sem regras, sem rédeas, ninguém escolhe quando vai se apaixonar.
Hora apaixona-se, outra hora não está mais, depois se apaixona de novo, e desapaixona-se novamente. É assim mesmo, sem uma fórmula mágica para gostar de alguém. Nos apaixonamos como o ponteiro do relógio muda de segundo.
Claro que todas essas paixões sem prazo de validade têm suas medidas específicas. Hora a paixão é mero primeiro impacto, tipo um amor á primeira vista, tem horas que a paixão é apenas carnal, outra hora é pela capacidade da pessoa fazer-se apaixonar. E tem vezes que a paixão parece que é para sempre, essa é a que mais me preocupa, é bom apaixonar-se dessa maneira, pois você ama de forma intensa e verdadeira, mas ás vezes essa paixão pode causar sérios danos ao nosso coração.
Pelo simples fato que ás vezes a carta não chega ao destinatário, ou seja, você não será correspondido. Você está apaixonado, mas nem sempre a sua paixão se transformará num relacionamento, pois a outra pessoa também possui sentimentos e neles a gente não manda. Quem sabe também se apaixona por você, ou apenas goste e com o tempo apaixona-se, ou nem goste, ou nunca vai se apaixonar, ou te odeia e de repente apaixona-se. É assim mesmo, uma loucura, são as medidas da paixão, e não importa o que se faça, quando são assuntos relacionados com o coração não tem explicação.
E de segundo em segundo o ponteiro vai girando, o tempo vai passando, o coração vai batendo, as horas passam, a banda passou, anoiteceu, amanheceu, fez sol, choveu, fez frio, ventou, as folhas caíram, chorei, sorri, ano-novo, tudo novo, novamente a máquina do tempo. Os dias que passaram não voltam mais, mas ainda bem que as paixões não passam, o coração fica, para de novo apaixonar-se.

(Cássio Almeida)

domingo, 31 de maio de 2009

Uma sala dominada pelas mulheres


Como muitos sabem, eu cursava Geografia na Universidade Federal de Pelotas. Um curso onde a maioria na sala de aula eram pessoas do sexo masculino. Fiz grandes amizades.
Agora estou cursando Turismo, na mesma faculdade, e para a felicidade geral da nação e principalmente minha, é uma sala dominada pelas mulheres. Um contraste e tanto. Será quatro anos e meio de convívio com essas queridas colegas. E eu, um sonhador por natureza, já penso o que nos tornaremos no fim desse ciclo, o tamanho das nossas amizades, quantos sorrisos e angústias iremos compartilhar. Tudo que fizemos, tudo ficará guardado.
Mas por enquanto, ainda estamos naquele clima de inicio de curso. Cada um se conhecendo melhor. Mas aí que surpreendo-me com essas minhas adoráveis colegas. Parece que se conhecem há anos, pode parecer machismo de minha parte, mas nunca vi um grande grupo de mulheres como esse se dar tão bem.
Acredita que esses dias trocaram presentes entre elas lá no fundo da aula, sim, motivo: Apenas amizade. Simplesmente trocaram presentes uma com a outra pelo fato de serem amigas. E fiquei pensando se aquela história que amizade verdadeira só acontece com homens, é verdadeira. Elas estão quebrando esse estigma.
Espero que essa amizade entre elas dure pro resto da vida mesmo.
Pois eu fiquei pensando também, imagina uma sala de aula cheia de mulheres sem se darem bem. Imagina todas com TPM ao mesmo tempo, seria o início da 3° Guerra Mundial. O Holocausto da vida moderna. Mas pelo pouco que as conheço, não acontecerá. E eu testo a paciênca delas, mas elas sabem que o carinho é reciproco.
Enquanto elas ficam lá trocando presentes, paparicando-se, conversando sobre tudo, ficam os meus colegas e eu falando sobre futebol, sobre futebol, e é claro, sobre elas, as mulheres.
Ah! essas minhas colegas!
Por mais que o mundo mude, e as mulheres comecem a tomar os lugares onde antes era só dos homens, por mais que elas sejam mulheres modernas, com atitude. Nos resta ficar em silêncio, e adimirá-las. Pois o tempo passa, mas não somos nada sem a delicadeza da presença delas.

(Cássio Almeida)