terça-feira, 20 de novembro de 2007

Múltipos mim


Outrora me quis ver
quis-me entender
cara a cara comigo mesmo.
E então descobrir, humildemente,
esse mundo tão distante, estranho,
e indiferente que eu sou.
Espelhos não adiantam mais,
não refletem o mais importante
que é o sentimento.
Então, múltiplos mim fabricarei.
E enfim ver-me, ouvir-me, e
entender-me.

No lugar onde se fabricam os sonhos,
talvez me encontre.
Rindo numa esquina qualquer,
falando poesia num ouvido desconhecido,
ou olhando da janela pro amor que vai passar.
Talvez,
mas ninguém dirá que múltiplos mim
diferentes de mim serão,
pois não há lado meu
que se diferencie
quanto ao coração.

(Cássio Almeida)

O fantástico mundo da geladeira


Mais uma vez abro a geladeira,
o passatempo preferido nos parece.
Que nada, não tem nada.
No fundo imaginamos a geladeira um portal de ilusões.
Abriremos, e lá aparecerão dragões cuspindo fogo, castelos,
duendes, ouro, um pudim e uma coca-cola.
Que nada, não tem nada,
só água gelada, um pote de manteiga,
e aquela lâmpada queimada.

(Cássio Almeida)

Pulsante


Coração bate forte
inúmeras razões
Meu amor, meus amigos,
meu time e indecisões.

E o coração bate forte
não cansa de bater
E pulsa o pulso
e segue a vida.

(Cássio Almeida)

Triz

Por um triz não é soneto
a poesia de minha vida.
Cantaria os versos tão simples
quanto canto a canção perfeita.
Quartetos de mar,
tercetos de amor.
Mas se desfez o soneto
e virou tempestade.
Acalmo-me como se acalma a dor.
Logo se vai a viração,
e chega o fim da tarde.
E a poesia de minha vida
novamente
vira calmaria.

(Cássio Almeida)

Conversações


Conversando o tempo passa rápido
Por que não passaria?
Passam também os outros
e suas conversações.
Falam do futuro, de coisas casuais,
falam também o difícil,
e a simplicidade impera.
Conversando o tempo passa rápido
e passa,
pois nada é mais estático
e para,
que um momento de silêncio.

(Cássio Almeida)

Passado escrito a lápis


Eu gostava muito de escrever a lápis. Não sei bem por que. Talvez seja por causa das coisas que se tinha devido ao uso do lápis: uma borracha, um apontador e no mínimo outro lápis. Sim, por que tinha uns que você começava a fazer ponta e não terminava nunca, o que acabava mesmo era o lápis. Não sobrava nada, ou melhor, só sobrava a sujeira.
O destaque em termos de lápis na época, eu me lembro, era um lápis meio emborrachado. Todo mundo acabava quebrando o lápis tentando entorta-lo. Era bom de escrever com ele, realmente era o melhor, mas eu confesso que quebrei muitos deles também.
Borracha: lembro-me de duas. Eu sempre quis ter aquela borracha com uma metade azul e a outra vermelha (a parte azul diziam que apagava caneta) eu nem usava muito caneta, mas claro, eu tive que fazer o teste: acabei furando a folha do caderno. Essa história que a parte azul da borracha apaga caneta é pura lenda, pode acreditar.
Mas a minha borracha preferida sempre foi aquela bela e quadrada borracha branca, aquela com uma carinha no meio. Até hoje eu não sei quem é aquele senhor estampado no meio da borracha, que frustração, ele devia ser o inventor da borracha ou algo assim, sei lá. Mas aquela parar mim era a melhor.
O apontador, bom, é um capítulo à parte. Com certeza era o que mais ocupava espaço no estojo, isso quando entrava no estojo. Se tinha uma coisa que não me chamava a atenção, era o apontador. Eu tinha daqueles bem simples. Além disso, eu sempre acabava ficando só com a lámina mesmo. Esculpia verdadeiras obras de artes nos meus lápis e uns dolorosos cortes nos dedos.
Mas o que algumas pessoas possuiam não eram somente apontadores, o apontador era apenas um mero coadjuvante por trás do ator principal.
Na verdade eram apontadores fantasiados de carros, elefantes, casas e o que mais você puder imaginar. O mais impressionante que eu vi foi de um colega. Era nada menos que um trem (ele me disse que o apontador ficava localizado entre o 5º e o 10º vagão, por aí).
Mas apesar de tudo isso, agora só escrevo à caneta, nada de lápis.
Esses dias encontrei umas anotações antigas escritas à lápis, não consegui ler nenhuma frase, de tão fracas que estavam as letras. A única coisa que identifiquei, foi um risco azul de caneta que eu fiz pra testar uma certa borracha da época.
Por isso, nada de lápis. Com o tempo, o passado escrito à làpis acaba sumindo. Agora só uso caneta.
Até que é interessante, tem até um líquido que apaga caneta. Mas eu não uso, eu rasuro e escrevo por cima mesmo, depois eu só passo a limpo.
Eu me rebelo oficialmente com o passado escrito à lápis, agora só escrevo o futuro e na base da caneta, mas sempre com o olhar desconfiado igual daquele senhor do meio da borracha.
Dizem que tem até uma caneta com sete cores diferentes para escolher, é só apertar o botão e deu!
Que frescura!!! Imagina o tamanho da caneta?
Hum... isso táme lembrando aqueles apontadores.

(Cássio Almeida)

José Maria

De tantos Josés, de tantas Marias
são todos Josés, são todas Marias.
E eu me encontro assim, perdido,
no mundo dos Josés e das Marias.

E o que me diz José?
E o que me diz Maria?
Pergunte pro José,
pergunte pra Maria.

E eu caminhava e cantava,
e seguia José e seguia Maria.
Mas todos os lugares me levavam
para o lado de lá do que eu queria.

Tudo era José e tudo era Maria.
E eu nunca me encontrava.
Nas placas diziam José,
nas casas diziam Maria.

Então assim nos nomearam
Agora somos José, agora somos Maria
José Maria igual à todos.
Pois na diferença isolaram-nos.

Agora não, agora somos iguais.
Já não nos zombam os Josés
Já não nos zombam as Marias.
Pois agora o diferente se perdera.

Agora estou sem graça,
já não vejo graça.
Tudo é espelho,
mesma face desgastada.
Mesmo gosto, sem gosto,
mesma cor, sem brilho.

Tudo igual no mundo dos iguais.

Pois nos negaram a identidade
botaram-nos sobrenomes
só não nos tiraram à alma
pois a alma não tem cor.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Alguém que me explique como tudo se fez


Big Bang!!!
E tudo se fez...
Só não fez-se a solução.

(Cássio Almeida)

Amigos


Aqueles que te fazem rir
num momento triste da vida,
aqueles que choram junto
e nem sabem por que.
Mas amigo mesmo aquele
que chora e ri,
chora e ri de novo.

(Cássio Almeida)

Em busca

Procurava,
não sei ao certo o que.
Uma simples resposta,
para uma simples pergunta.
Ou quem sabe um pingo de tinta,
para uma vida sem cor.
Procurava,
uma palavra que tivesse sentido.
Queria ao menos achar o certo,
sem me preocupar com o que eu fiz de errado.
Talvez nada quisera encontrar,
apenas tivera fugindo.
E ao procurar eu me escondia.
Mas o pior de fugir da vida,
era procurar algo que não tivera perdido.

(Cássio Almeida)

O capricórnio alado


Rumava para o trabalho sempre pelo mesmo caminho. Cruzava pelas mesmas pessoas, na mesma hora, no mesmo local. Mas um dia alguma coisa aconteceu. O mendigo que sentava na esquina me chamou. Eu já ouvira histórias sobre ele, a mais estranha contava que ele lia todo dia um jornal de anos atrás.
Quando me aproximei, as folhas amareladas do jornal comprovavam a tal história.
_ Não precisa ter medo _ disse-me o mendigo, olhando para o jornal.
_ Não estou com medo _ respondi.
_ Então sente-se aqui Joãozinho louco.
Agora realmente ficara com medo, ele chamou-me por um apelido de criança. Eu já tinha até esquecido, mas ele fez questão de me lembrar do apelido, que por sinal, eu odiava.
_ Quem é Joãozinho louco? _ retruquei.
_ Ora João, você sabe.
Tive que admitir.
_ Como você sabe desse apelido, eu nunca falei sobre isso com ninguém.
_ Ah, você já deve ter ouvido muitas histórias sobre mim. Nunca ouviu falar que eu sou um adivinho.
Adivinho, essa era mais uma história que eu ouvira sobre ele, e de novo a história comprovara-se. Lembro até uma matéria que um jornal fes com ele: "O profeta das ruas".
Continuei...
_ Sim, já ouvi falar muito das suas histórias. O profeta das ruas, lembrei-lhe.
_ Pois é _ disse ele, folhando o jornal de folhas amareladas.
_ Aqui está! A matéria que você se referiu.
Agora começava entender a tal história do jornal.
_ Ah! É por isso que você lê o mesmo jornal todos os dias, você fica aí se admirando no jornal.
_ Na verdade é por causa do horóscopo.
_ Horóscopo?
_ Sim, que signo você é? _ perguntou-me.
_ Capricórnio _ respondi.
_ Pois é, eu também.
Não estava entendendo nada, mas ele tratou de me explicar.
_ Quando você era criança, você tinha um sonho, não é?
_ Sim, mas fui crescendo e o tempo me fez esquecer.
_ Eu sei, deve ter sido difícil pra você, afinal, não é comum alguém querer voar como um pássaro.
Cada vez mais aquele senhor de barba branca e roupas esfarrapadas me surpreendia.
_ Mas como você sabe de tudo isso?
_ Eu estava lá.
_ O que?
_ Você lembra quando começou a desestir do seu sonho.
_ Claro, foi quando eu subi no alto de uma árvore e pulei. Eu queria tentar voar. Eu me salvei por que cai em cima de um homem que passava por lá.
_ Pois é, até hoje eu tenho problema de coluna por causa disso.
_ Não acredito!!! _ falei surpreso.
Nesse momento abraçava-lhe com toda a força. Afinal, se não fosse por ele, eu estava voando no céu há essas horas.
_ João, eu tenho o mesmo sonho que você. A diferença, é que você não teve medo de saltar e descobrir que era impossível voar. Eu tenho medo, por isso sigo com esse sonho de criança. Eles me chamam de louco também. Agora eu vivo na rua, nessa esquina, onde encontrei esse jornal com a minha matéria. O horóscopo é o que me motiva, olha aqui _ me mostrando o jornal de folhas amareladas.

Capricórnio:
"Hoje você acordou de alto astral, não é?
Então não espere mais para dar um salto na vida.
Espanda os seus horizontes, voe para longe."

Agora eu sinto o que passa pela cabeça dele. A minha coragem livrou-me de um sonho impossível. Agora o medo, prende o velho mendigo na esquina.
Entreguei-lhe o jornal, não sabia o que dizer. Ele estava em silêncio, coloquei as minhas mãos em seus ombros e disse:
_ Preciso ir trabalhar, mas foi bom ter conversado com o senhor. Como é mesmo o seu nome?
_ João _ indagou com a voz trêmula.
Mais uma vez ele me assustou. Dei tchau e fui trabalhar.
Depois de um dia de trabalho, voltava eu, pelas mesmas ruas de sempre, na mesma rotina. Quando estav perto do local onde tive a conversa com o mendigo, avistei um aglomerado de pessoas em volta de alguma coisa que eu não sabia o que era.
perguntei para uma pessoa o que havia acontecido:
_ Hei rapaz! O que está havendo aí?
_ Dizem que uma pessoa se atirou do prédio aí em frente.
_ Espantei-me, a primeira coisa que fiz foi olhar para a esquina pra tentar avistar o mendigo. Ele não estava lá, pensei o pior.
Quando cheguei perto da multidão, avistei um corpo coberto por jornais. Um jornal de folhas amareladas sujas de sangue.
Eu não acreditava, o meu coração disparou. Ele não podia ter feito isso.
De repente eu escuto uma voz enraivecida:
_ Eu não acredito!!! Sujaram o meu jornal.
Olhei para trás, e lá vinha ele com a sua barba longa e suas roupas esfarrapadas. O mendigo sem se preocupar com a situação, que de fato era triste, indagou:
_ Pô! João, hoje em dia não dá pra descuidar mesmo, foi só eu virar as costas que afanaram o meu jornal, assim não dá!
Segurei um sorriso. E o mendigo João ainda disse mais uma:
_ É, mais um sonhador hein, eu sou sonhador e mendigo, mas não sou burro, tá louco, dessa altura nem pensar. Quem sabe de cima de uma árvore.
Dois capricornianos, duas vidas. Essa noite eu não fui para casa, tinha muito o que conversar. O mendigo e eu, tomamos um café, compramos um jornal e sentamos na esquina.

(Cássio Almeida)

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Profeta cigana


Parou-me na rua,
aquela singela cigana.
Queria ler o meu futuro
na palma de minha mão.
Assim, bem simples.
Profecias feitas por alguém
que nem mesmo sei
nunca me viu nos olhos.
Como pudera alguém me profetizar
se nem mesmo eu
num todo me conheço.
Lado B, mundo particular,
no lugar onde me escondo,
lá ninguém me acha.

(Cássio Almeida)

Alguém que sonha demais

Por um instante perdeu-se o tempo.
E a eternidade pareceu-me tão pequena.
A hora gritava
e pegava-me pelo calcanhar.
Talvez por ser alguém que sonha demais
não percebia.
E no exército dos sonhos,
os minutos marchavam e batiam continência.

(Cássio almeida)

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Um rio no meu quintal


Qualquer hora dessas me serve
pé na estrada e vou.
A estrada que ia, mesma estrada que vem.
E não me escapa qualquer detalhe
gravado pelos olhos.

No meu quintal há um rio
onde navega a minha imaginação
vou até onde o rio possa me levar
não tenho medo não
do que possa encontrar
pego carona na correnteza e vou.

Eu deixo para trás a minha rua,
a minha sombra da Figueira,
e vou navegando por aí.

Há um rio no meu quintal
e pouco importa onde possa me levar
uma hora chegará o mar,
uma hora chegará o mar.

(Cássio Almeida)

Horizonte, amor e maresia


O amor é como o mar...
Ao mesmo tempo,
lindo e perigoso.
Há tantas razões para o amor
entre um olhar e o horizonte
que o próprio coração desconhece.
Razões inúteis.
Pois se tratando de amor,
não há razão suficiente
que defina ou resuma
a verdadeira razão
para amar.

(Cássio Almeida)

De janela aberta


Do 3º andar
no prédio que morava
no quarto que dormia
de janela aberta
pela janela eu sonhava.
Acordado ainda
eu via a luz da lua
e quando não tinha
eu então contava mundos
chamando o sono que fugia.
E tomava um susto
quando um morcego, uma coruja,
desembestada a bater no vidro.
No dia de noite cinza
relâmpagos ao fundo
clareava tudo.
Trovão! Tremia o vidro,
e começava a chuva sonífera.
De repente me pegava
sonhando acordado.
A janela dos olhos ainda pesados
fui molhar a cara na chuva.
Já tinha futuro,
a chuva,
já tinha passado.

(Cássio Almeida)

Salgueiro


Feliz estou.
Tão feliz que o dia até percebe.
Até sorriu para mim
o choroso Salgueiro.
Mal sabia que sua sombra sim
fazia-me feliz.

(Cássio Almeida)

Encruzilhada


Estou confuso,
muito confuso.
Norte, sul, leste, oeste...
Ir e ver o que acontece
caminho certo ou não.

Quem sabe fico,
e espero me encontrarem.
Talvez ninguém passe,
então me perco outra vez.

Quem sabe sigo o vento,
espero a noite sigo estrelas.

Talvez a vida seja se perder
o difìcil é se achar
mas deve ter sentido,
essa tal encruzilhada.

Estou confuso,
muito confuso.
Quem sabe a vida é se encontrar
quem sabe a vida é se perder.
Norte, sul, leste, oeste...
Talvez tudo fosse assim,
e minha mente fosse bússola.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

A casa da árvore


Engenheiro criança que era
fabricava aquela casa da árvore.
Sem cálculos, ora, sem cálculos,
apenas madeira, serrote,
prego e martelo.
Algumas horas, alguns cortes nos dedos,
algumas felpas e marteladas nas mãos.
Mas enfim estava lá,
pronta para habitar,
e talvez pronta para cair,
acho que precisava de cálculos, ora, de cálculos.
Mas engenheiro criança ingênuo que era
fabriquei aquela casa da árvore.
Casa minha, caso queiras,
aluguei a casa.
Inquilinos da imaginação.
Moram agora ali,
no topo logo acima do mundo,
sob um céu de vidro,
sob um céu de mistérios,
que só mesmo nos sonhos
um dia possa endendê-lo.
Pois nos sonhos, o que não é possível?
Talvez no lugar onde se fabriquem os sonhos
encontre algum universo mal resolvido.
Casa minha, caso queiras,
aluguei a casa da árvore.
Inquilinos da imaginação.
Engenheiro criança sem limites que era
sem querer fabriquei
a casa dos sonhos.

(Cássio Almeida)

Entre a sombra e o horizonte


No retrato que me faço
desenho um mar imenso
onde as pessoas possam ver
em seu horizonte distante
a longa vida que tracei.
Onde cada onda é o meu respiro
onde cada onda é o meu anseio.

No retrato que me faço
desenho uma imensa e velha árvore
onde as pessoas possam ver
em seus galhos e folhas
a longa vida que eu deixei.
Onde a seiva é o meu sangue
onde a sombra é o meu descanso.

Eu me retrato entre a sombra e o horizonte

Entre eles há um vida
que retrato como o vento.
É o destino soprado
onde os tufões são os problemas
e a brisa... conquista!

Retrato-me um mar.
Onde a maré trará lembranças
e o horizonte saudades.

Prefiro seguir assim...
No embalo da maré
entre a sombra e o horizonte
e sem saber amanhã
como o vento soprará!

(Cássio Almeida)

Fúria do mundo


O ventre da mata pega fogo
matando o filho da flor
que germinava.
A borboleta do casulo
nem saía,
e o bicho preguiça,
nem teve tempo de acordar.
Em outros cantos do planeta
o mundo monstrava toda a sua fúria.
A terra tremia de nervosa,
e o mar que era calmo,
agora devastava tudo.
A montanha com raiva
vomitava fogo.
E o vento que era brisa,
soprava a mil por hora.
Enquanto isso na mata...
Os animais gemiam de dor,
e o grito dos pássaros ecoava
um grito de socorro,
esperando "sem pena",
que o dia chore por elas.

(Cássio Almeida)

Guidom

Eu quero ir,
mas não sei se vou.
No canto escuro do quarto
a parede sussurra no ouvido.
A janela tão longe e,
mais longe ainda o mundo atrás dela.
Ela, janela!
Pois ela, meu amor,
está dentro de mim.
Há tantas dúvidas lá fora,
então por que não ir?
Se sou eu que controlo o mei guidom.
O guidom é leve,
mas no caminho que faço
eu guio com calma.
Cá fora o Mundo é Grande,
não tão grande
como o mundo de Drummond.
E o meu olhar largo
não avista tudo.
Porém,
Enxerga a fronteira dos homens.
A fronteira entre a loucura
e a santidade.
Entre a mentira e a verdade.
A fronteira entre o óbvio
e a mais pura filosofia insana
que o homem possa criar.
Ainda há muito aqui fora.
E o meu diagnóstico
mantém-me forte pra viver,
viver as coisas que virão.
E ao longo do caminho
as diferentes faces se cruzarão.
Não sei ao certo onde.
Pois o guidom do tempo caduco
inutilmente,
insiste em freiar.

(Cássio Almeida)

Tímido coração


Ás vezes pareço sentir o peso do mundo.
Não esmagando o meu corpo,
mas torturando a minha alma.

Vivemos no mesmo mundo
e num mundo tão distante
acho que é só explicar
ah! Quem me dera fosse fácil assim.

Se o teu corpo fosse mar
e nele pudesse navegar
já me bastava um barco à vela
para em tua alma naufragar.

Se o teu corpo fosse flores
e o aroma pudesse sentir
já me bastava uma pétala
para ser o mais bonito jardim.

Se o teu corpo fosse céu
e nele pudesse voar
já me bastava um pedacinho
para ser meu imenso universo.

Se o teu corpo fosse o caminho
e nele pudesse me perder
seguiria os seus passos
e cruzaria por você.

Vivemos no mesmo mundo
e num mundo tão distante...

Ah! Se o teu mundo fosse meu
e nele pudesse viver
já me bastava um sorriso
para se despir o meu coração.

(Cássio Almeida)

Vida cicatriz

"Eta" vida caduca
que corta a minha alma
que cicatriza com o tempo
tempo corrido com o vento
vento soprado pelo gigante
gigante cansado da batalha
batalha guerreada dia a dia
dia que recomeça,
dia que não tem fim.

(Cássio Almeida)

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Palavras ao avesso


Que simples seria,
até acho graça,
ou algo reprimido.
Que simples seria
escrever, e alguém entender.
Palavras diretas,
palavras ao avesso
que num copo de cachaça
aí sim, tudo se mistura.
Não quero dizer o óbvio,
que em muitas vezes já me bastaria.
Quero dizer algo mais
algo que se leia
e por algum segundo,
apenas algum segundo de uma vida inteira,
alguém pare os pensamentos múltiplos
e perceba,
perceba o avesso da palavra.
Entre linhas,
entre nós,
escondido.
Aquilo que só quem imagina
chega lá,
quem entende sabe,
lugares próprios.
Lá sim,
alguém entenderá,
que palavras ao avesso
dizem algo mais,
muito mais.

(Cássio Almeida)

O tempo e o tonto


Tem vezes que o tempo passa lento.
E o que fazer na lentidão das horas?
Ponteiro parado, segundo infinito.
O tempo passa lento, talvez nem passe.

O tempo engana o tonto.

Tem vezes que o tempo simplesmente passa
e ninguém sente.
E o que fazer no furacão das horas?
No turbilhão dos segundos.

O tempo engana o tonto.

O tempo não muda nunca
tonto é o que acredita.
Mas na revolta das horas
o tempo nos deixa louco.

Quando perdemos a noção do tempo,
o tempo engana o tonto.

(Cássio Almeida)

Primitivos


O homem pré-histórico
de nada sabia.
Fez questão de inventar
fez o fogo, ergueu-se, evoluiu.
O homem contemporâneo
parece saber de tudo
faz questão de reinventar
Taca fogo, ergue muros, e
volta a ser pré-histórico.

(Cássio Almeida)

Êxodo


Um dia o homem do campo
mudou-se para a cidade.
Já acostumado com a vida calma
e sozinha do campo,
agora se via perdido
naquela floresta de pedra e ferro.
O sereno que precedia as manhãs,
agora dava lugar a fumaça sufocante.
O verde já não vira há um bom tempo,
só o cinza do céu poluído.
O rio que corria límpido,
serpentiando as suas terras,
agora nem se move mais, rio?... Esgoto!
Mas um dia a esperança renovou-se.
Da janela do 10° andar
um passarinho então cantou.
Depois de tanto tempo
endurecido de dor,
o homem bruto do campo
pela primeira vez chorou.

(Cássio Almeida)

Barco


O poema vem do acaso
vem de um descuido
eu me destraio
e ele surge.
O poema vem de um suspiro
vem com o vento
vem com a dor, e
com o sorriso.
Ele vem no preto e branco
do passado
ou no mais colorido futuro.
Agora chove lá fora,
e a chuva na varanda
é uma boa pedida.
O poema molhado da chuva.
No fundo a paisagem é um mar.
O mar da tranqüilidade,
o mar da distração.
E no horizonte vem um barco,
e lá vem o barco...
Um barco cheio de poemas.

(Cássio Almeida)

Colorado, guerreiro dos pampas


Muitos me perguntam por que sou colorado...
Quando nasci em Março de 86, o mundo já tinha sofrido grandes mudanças. Já havia passado duas Guerras Mundiais, entre outras tantas guerras.
O Brasil já era tri-campeão do mundo, e, em meu estado glorioso do sul, também já havia um campeão mundial, eu não nego. Fui crescendo, aprendendo e cada vez mais sentindo a guerra que ainda continuava pelos meus pampas.
Não entre Maragatos e Chimangos, mas entre gremistas e colorados.
Passou o tempo, e com isso chegou à hora de alistar-me nesta Guerra Grenal. Nesses exércitos não existe hora certa de alistar-se, nem mesmo obrigação, tanto que muitos até fogem da batalha.
Mas eu não, eu queria sentir na pele aquela rivalidade.
Entrei para o exército dos vermelhos, e isso a gente não explica, a gente sente. E foi o que eu senti quando conheci um dos campos oficiais de batalha, naquele belo e vermelho quartel general na beira do rio.
Eu tenho amigos no exército rival, afinal, esta é uma guerra de paz, não de sangue e sim de desejos. Talvez seja isso que mais me motivou pela escolha que fiz. O desejo de conquistar e sentir na alma, na pele o sabor das vitórias, sentir, e de passo em passo avançar o campo inimigo até a batalha final.
No campo oficial de batalha, apenas onze soldados são escolhidos pelo seu general para o combate. Cabe a nós, oficiais de patente menor, mas não menos importante, torcer e incentivar os nossos companheiros. Não importando se ao vivo, ou espalhados pelos pampas em seus fortins, escutando pelo rádio as informações da guerra.
A cada ano que passa, esse exército vem crescendo. No passado, guerreiros cobriram os pampas de sangue, em batalhas cruéis. Agora no presente, nossos guerreiros cobrem os pampas com o vermelho do nosso manto sagrado.
As pessoas são movidas pelo desejo...
Desejo de viver,
desejo de amar,
desejo de vitória.
É com esses desejos, que seguimos com a nossa batalha guerreada dia a dia. Guerra saudável, guerra da alegria, guerra da rivalidade grenal.
Por mais que eu tente, eu não consigo explicar por que eu sou colorado, eu sempre digo, a gente não explica, a gente sabe, a gente sente.
São os desejos...
Sou do pampa, sou guerreiro, sou colorado. Somos quem faz a onda desse mar vermelho, radioso de luz, orgulho do povo do Rio Grande do Sul.
Se o exército inimigo são os azuis do céu, então façam da vida deles um vermelho do inferno.

Cássio Almeida, colorado e guerreiro do Internacional.

(cássio Almeida)

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Renovar

Tudo se renova;
Renova-se a hora, o dia, o mês, o ano.
Renova-se idéias, cores, segredos, que de tão segredos,
perde-se no tempo, que se renova também.
Renova-se as folhas que deitam no chão,
a estação,
a emoção,
os sonhos.
Renova-se uma nova história.
Renova-se a vontade, a idade, o olhar, a alegria.
E renova-se a estrela que cai que de tanta gente,
renova o pedido.
E quando tudo estiver para acabar,
quando a luz já estiver por se apagar,
renovar-se-á então a vida,
que nos dá essa chance,
de simplesmente, tudo renovar.

(Cássio Almeida)

terça-feira, 19 de junho de 2007

Sigamos assim


Sigamos assim, escrevendo,
ou melhor,
deixando fluir a imaginação.
Essa imaginação caduca,
que poucos entendem,
mas todos sentem.
Assim como as ondas do mar,
quando vem e molham nossos pés.

(Cássio Almeida)

Mar profundo


Aqui é onde esconde-se,
esconde-se até o que eu não sei.
Na imensidão
no mar profundo da alma.
O barco que trazia,
que trazia poesia
não chegou...
Um barco sem vela
um barco á deriva.
O poeta então naufragou
no mar profundo da alma.
Alma sem fundo
barco caindo
o poeta então
eternamente nadou.
Alma sem fundo
o poeta não sabia
que na região mais profunda
também há poesia.
Eu então,
que nada sabia
na beira da praia
o mar anuncia:
_és a simples vela
que o barco precisa.
Agora entendo
quando a maré subia
trazia das profundezas
aquelas tais poesias.

(Cássio Almeida)

Livramento do Santana


Quando toca o violão,
o Livramento do Santana
Toca a sua vida
ou da vida esquece?
Toca a simples cópia
toca a sua cria.
E quando o violão grita
desafinado o seu descanso
segue tocando em segredo
o Livramento do Santana.
Toca o fim do infinito
quando viaja em pensamento.
Lugares imaginários
convidativos a escrever
Papel, caneta... poemas.
Pode até estar calado
É, o Livramento do Santana.
Mas quando toca o violão
toca a alma
a divina criação
E o que a gente escuta
o olhar simplifica.
Escutamos a mesma nota
a mesma nota poesia.

(Cássio Almeida)

Quando chega a noite


Teve um dia que o poeta calou
Quais palavras simples, raras
ou obscuras vai usar.
Pela primeira vez, não sabia o que dizer.

Mas logo via num olhar caduco
que naqueles pensamentos múltiplos
há razões para escrever,
há razões para criar.

Quando chega a noite
também chega a fantasia
E esse medo que não desgruda
E essa noite que não chega.

(Cássio Almeida)

Coração infinito


Quanto ao amor,
dispo o meu coração.
De tanto amar,
aprendi a viver.

Então se vivo por que amo,
nunca conhecerei a escuridão.
Pois meu coração infinito,
nunca deixará de amar.

(Cássio Almeida)

Poema, poesia, pensamento

A lua ilumina
de novo
o escuro tão fundo.
Lá estão os poetas mortos
Eles sussurram pelos cantos
aos poemas serem escritos.
Está no ar...
Poema, poesia, pensamento.
E eu absorvo
Num sono profundo
profundo como o mar
há eterna poesia calada.
E quando a lua ilumina
de novo
o escuro tão fundo
Eu, sentado nas pedras
vento no rosto
olhar no horizonte
coração sorrindo
e maré chegando.

(Cássio Almeida)

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Lado B


Como nos velhos tempos, no tempo dos vinis, das fitas cassetes, no tempo em que ainda tinha-se o lado B. O lado B das coisas.
Porém, como nos velhos tempos, eu ainda tenho o lado B, acima de tudo o lado B de mim. É ali que ás vezes escondo-me, ali, que outrora chamei de mundo particular. É nesse mundo que quase sempre estou, no lado B que só eu posso ouvir, sentir, voar, viajar num piscar de olhos. E o melhor de tudo, estar livre.
Livre das preocupações, livre das injustiças, livre da mentira.
Livre da hora, do frio, do bandido, da bala perdida, da partida, do partido. Livre da poluição, da contaminação, do barulho ensurdecedor das usinas. Da máquina que destrói casas, da máquina que fabrica máquinas e que destrói casas. Livre do medo, do susto, do escuro, da fumaça, da barca furada, do leão, dos juros.
Livre dos muros, do alarme, da falsidade, da guerra, da bombinha âtomica.
Livre de tudo. Ponho-me assim, livre. Atado, só o meu coração. Que despreza os lados, sempre reinando, por não deixar de amar.
Laço tão forte que ninguém desata, lado A, lado B, não há lado que resista a grandeza de amar.
Pois bem, aqui encontro verdade, no lado B, não que na vida real eu não encontre, mas aqui é diferente. Aqui as coisas têm outro significado, outras medidas, aqui vejo o que não quero ver, ouço o que não quero ouvir.
Quanto ao coração, esse não vai mudar. Diferente ao coração, apenas os que não têm. Pois aos que possuem, ele sempre vai soar mais alto em qualquer dos lados. Ele vai ser o seu guia pelo mundo.
Como nos velhos tempos, no tempo dos vinis, das fitas cassetes, no tempo em que ainda tinha-se o lado B. O lado B das coisas.
E esse lado meio caduco, todos encontram, até quem não quer.
Não precisa ir longe, basta apenas fechar os olhos.

(Cássio Almeida)

Retina


Um olhar diz tudo
É tão profundo
quanto ás batidas do coração.
É tão penetrante
quanto as balas de um fuzil
mesmo que nunca tenha sido alvejado,
mais profundo que um olhar, não pode ser.
Mas um olhar verdadeiro.
Não um olhar glacial,
vazio de sentimentos.
Quero um olhar que diga
que faça rir e chorar.
Que faça te ver
mesmo quando fecho os olhos.

(Cássio Almeida)

Mundo particular


Em comum vivemos no mesmo mundo.
Mas cada um de nós tem um mundo particular.
Na rua você caminha e tropeça no mesmo mundo que todos tropeçam. Mas
as dores do mundo de todos, você vai sentir é no seu mundo particular.
Pra falar a verdade, eu vivo mais no meu mundo particular do que no mundo de todos.
No meu mundo não há regras, não há leis, não há hora certa pra nada. Deve
ser por isso que ás vezes é um verdadeiro caos aqui dentro.
Mas aqui você é livre pra tudo.
Confesso que em alguns momentos você fica preso sim, você não sai do lugar
mesmo... Mas isso geralmente acontece quando estou dormindo.
Aqui você cria e controla quase tudo, você pode até achar o final do seu mundo,
diferente do mundo infinito de todos.
Ah... o mundo é particular, mas por incrivel que pareça, sempre há invasão
de um o outro no meu mundo. Uns são penetras, mas outros sou eu mesmo que convido.
Não vou negar, eu também invado alguns mundinhos por aí, uns eu faço questão
de invadir, há outros que não tem como entrar mesmo. Você pode até estar em
vários mundos particulares ao mesmo tempo, mas quase sempre dá confusão no final.
Aqui no meu mundo, os dias terminam sem ter começado, e á noite o sol brilha no alto.
No meu mundo é assim, tudo pode acontecer. Nem eu sei o que vai acontecer
daqui há um segundo.
Aqui no meu mundo particular, é como se eu fosse um semi-Deus, uma segunda
força divina.
Acima de mim, há um Deus todo poderoso que rege o meu mundo.
Um Deus simples, apelidado de imaginação.

(Cássio Almeida)

Espelhos


Quando me vejo
face a face
procuro de tudo
Achar respostas,
secar o choro,
despir a alma.
Mas de nada adianta,
coisas não mudam.
Os espelhos refletem
o mundo,
mas não refletem
o meu sentimento.

(Cássio Almeida)

Gineceu


Da janela então eu via o mundo
um mundo pequeno,
um mundo enquadrado.
E via passar o dia,
e via passar o pássaro.
Pesadas penas que o paravam.
Também pesava a hora,
também pesavam as flores.
As belas flores sob a chuva...
Mais bela é minha flor
A flor sem pétalas,
a flor sem espinhos,
a flor que beija.
Mas igualmente exalam
o aroma do amor.
Eu então um colibri,
pesadas penas que paravam-me
Devagarzinho,
de flor em flor,
eu volto a voar.

(Cássio Almeida)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Conta giro


Hoje corro contra o tempo
corro na direção do vento
ando rápido nas curvas perigosas
e nem o abismo é o limite.
Agora atropelo o horizonte
cavalgo pela escuridão
ultrapasso a correnteza
e descanso na imensidão.
Agora vôo como um pássaro
cruzo o céu como um cometa
faço a vida correr,
mas isso quando estou só.
Quando estou com você
o que eu mais quero
é desacelerar o tempo,
é abraçar os segundos,
é transformar uma hora
em uma vida inteira com você.
Agora descanso nas palavras
repouso no tempo que me sobra.
Mas a minha alma,
mas o meu espirito,
corre loucamente, solto por aí.

(Cássio Almeida)